"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Leaving December (heal)


Levar a filha ao mundo
Cura e cicatrizes
Fizeram dezembro.

A cura que chega
Aos poucos:
A ave mítica do passado
Já não me come o fígado
Todos os dias.

Vem dia sim dia não.
Dia sim dois dias não.
Dois dias não dia sim.
Dia não.
Dia a dia.
Dialética...
E vai virando
Águ(i)a passada.

A quelóide que fica
É a garantia da lição de vida.

Joana veio e
Foi para o mundo
Em dezembro.
Rompeu fronteira.
Voou
Viu
Aprendeu
Falou
Traduziu
Sorriu
Respirou novos e
Bons Ares.

Nada mais importa agora
A não ser continuar a caminhar
E progredir.



















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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Vai! Oscar...


Vai!
Vai buscar
Outro olhar,
Outros espaços,
Outras perpectivas.
Vai lá!
Vai...

Vai buscar
Tocar
Ver de perto
A alvura das nuvens
O cristal do céu
Que sempre trouxe
À Terra em seus projetos

Vai lá!
Vai
Encontrar talvez
O Deus em que nunca
Acreditou
Mas que de você ganhou
A mais bela casa,
A mais bela oração.

VOILÁ!

Voa lá e vai
Buscar mais coisas para fazer
Novos Belos Horizontes,
Novas cidades,
Novos mundos.
Comprova
Que o universo é infinito,
Que somos m3rda
Diante dele
E que a vida é um sopro.

Vai.
Vai buscar
Inovar
Contestar e ser contestado.
Sempre...

Agora vai.
Vai projetar o Olimpo!
Vai lá Oscar!

Se ao Carlos,
Mandaram ser gauche na vida.
A você,
Mandaram ser ponto fora da curva.
Ironicamente...













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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Leaving November (autumn)


Novembro foi-se
Por um triz
Não foi junto meu pescoço
Muitos baldes quase voaram
Em pontapés e cabeçadas
Em quase gols de placa

Foi outono em primavera plena
Queda de flores e folhas
Lifelong believings
And belongings

Fertilizando e pavimentando
O chão que tenho pela frente
O quase mesmo chão do Bob Villela*

Novembro foi-se
E para mim foi
Conjunto de perdas
Das coisas que nunca tive
E ganhos das coisas
Que nunca perdi.
*(http://linhasminhas.wordpress.com/2012/11/23/funcoes/)

 Desenho: Joana Lessa Campos 11/2012

















terça-feira, 20 de novembro de 2012

Carta Para Minha Filha


     Joana,

      se você não tivesse chegado ao mundo como chegou,  prematura de seis meses na véspera do Natal de 2005, diria que hoje foi seu primeiro vestibular.
     Naquela época foram quase sessenta dias de prova não só para você, mas para todos nós, indo e vindo diariamente ao hospital para te visitar e te dar forças, numa rotina angustiante casa-trabalho-UTI-casa-trabalho-UTI.
     Foi quando sua mãe deu mostras de quanto é gigante e guerreira, assim como você.
     Olhando para trás vejo que, apesar de ter enfrentado seu primeiro "vestibular" logo que chegou ao mundo, você foi a professora, e nós os alunos. Seu exemplo de garra e superação nos inspirará para sempre.
     Hoje, 19/11/2012 você fez o seu primeiro teste de seleção para mudança de escola.
     Foi aprovada para entrar numa escola concorrida!
     Quando sua mãe me ligou para dar a notícia, fiquei muito orgulhoso, feliz e emocionado. Passei vários minutos no trabalho reprimindo suspiros e controlando os olhos marejados de lágrimas de felicidade. A vontade era de explodir, sair de lá correndo para te encontar e te cobrir de beijos!
     Tenha certeza minha filha, que muitas outras provas e testes virão, sejam eles na vida de escola ou na escola da vida e de que estaremos sempre ao seu lado.
     Por falar em vida, veja como ela é curiosa: ontem eu vi na internet uma foto feita por um colega de trabalho, o Remi Bouquet. A foto mostra uma joaninha caminhando em meio a um grande novelo de arames farpados. Imediatamente me lembrei de outra foto de joaninha, feita em Paris por outra colega de escritório, a Grazi Malaco. Desta vez a sua xará caminha sobre um mapa da Cidade-Luz...inacreditavelmente a sua cara!
     O Alessandro Marques, também colega de escritório hoje estava jubilante com a filha dele que passou em vários vestibulares e muito bem colocada em todos. Estava num sorriso só. Parecia o Gato da Alice no País das Maravilhas...
     Quando uma coisa-coincidência dessas acontece é sinal inequívoco da existência de uma força e poder superior e que chamamos de Deus. Isso não acontece à toa. Não é possível que seja mero acaso esses momentos terem se conjugado agora. Não foi por acaso também que nos encontramos...
     Esse é o mundo minha filha.
     Essa é a vida: não é fácil, é cheia de obstáculos, dificuldades, farpas, mudanças e muita luta.
     É para ser vivida e vencida com fé, poesia e coragem, pois Paris está lá, nos esperando como recompensa!
    
     Estamos todos muito contentes.

     Te amo.

     Papai.







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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Calmaria


Seria ela calmaria
Pr’um coração
Tão agitado?

Seria ela todavia,
Se estivesse
Apaixonado...

















Desenho:  Joana Lessa Campos

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Leaving October (behind)


Ontem, 29, ventou e choveu,
Mas não adiantou.
O calor ficou.
Ontem, 29, dormi e repousei,
E não adiantou.
Não sonhei.
Pelo menos não me lembro
Ter sonhado.

Hoje, 30, sigo a pé meu caminho
Povoado de lembranças antigas
E pensamentos inúteis retrógrados
Cheio de ruas e calçadas íntimas
Com essas lembranças e pensamentos.
Pisoteio solos sagrados,
Regados irrigados hoje, 30,
Com suor e lágrimas de
Emoção e saudades
Do que passou e nunca mais vai voltar.

Na multidão que cruza o meu caminho diário
Busco sempre o mesmo rosto sem o achar,
Mas quando isso acontece,
Reconheço mais a alma, menos o rosto
Que aparece com os olhos fechados selados,
Com a boca costurada lacrada
E os ouvidos, inexistentes,
Derretidos colados à cabeça.

Alguém que não me vê,
Não fala comigo
E não me ouve mais.
Sequer me reconhece.

Amanhã, 31, quero não estar triste.
A tristeza é uma droga.
Quero melhorar meu sonho,
Melhorar meu caminho,
Melhorar meu mundo.
















Imagem: Aproaching a City - Edward Hopper (1946)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Saudade


O coração hoje já não bate:
Grita
Palpita cada sílaba
Possível impossível
Perdida escondida
Descartada desprezada
Em tentativa frenética
De reagrupá-las,
Formando novamente palavra
Intraduzível
Quase sagrada
Para só depois entrar em harmonia
Satisfeito, num ritmo só
Sem querer parar nunca,
Sussurrando em meu peito:
Seu nome...
Seu nome...
Seu nome...

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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sem Título ou Motivo Aparente


Meu amigo de longe
Hoje perguntou
Se ando escrevendo.

“Ando vivendo”
Respondi.

Mais intensamente do que nunca,
Sem um traço que preste,
Construindo preocupações,
Cavando rugas em minha testa,
Sobressaltos no coração...

Minha arquitetura anda por aí...

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mineirão


A grande roda dentada
Que irmana dotados
E desdentados
Num grito só
E abraços mil
Proporcionando a todos
O melhor dos desabafos:
"Vai pra puta que o pariu!"
















Foto: cartão postal 1965. Coleção particular.

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Leaving September


Noite de vento intenso eu
E mudanças.
E frio.
Há estrelas e lua cheia no céu
E nenhuma nuvem,
E frio.

Eu na janela
As janelas em mim,
As janelas na alma,
E frio.
E intenso eu
Vejo tudo pela janela.
















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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Recado


Pra que na boca do povo não caia
Pra que não fique surpresa
Sugiro que arrume tua saia
Pois vê-se tudo por baixo da mesa

Não tive culpa
Olhei de relance
E ainda que a visão me balance
Digo apenas: tome cuidado
Porque está dando o maior lance

Por favor
Não se aborreça
E caso a raiva apareça
Deixe vir o fim da aula
Para que a bronca aconteça.


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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Mea Culpa - Confissão de Dívida Eterna de Sangue e Silêncio


Sento-me e escrevo,
Meio inclinado para frente
Sinto-me.

Um sangue grosso
E quente me escorre
Pela testa e têmporas,
Contorna sobrancelhas
E ganha a face entrecortada de rugas
Recentes
E outras vindouras,
Ao mesmo tempo
Ancestrais,
Até finalmente chegar ao queixo e pingar,
Batizando com suor e lágrimas,
Gota a gota,
Mesa, papel e mãos.

Um sangue doido
Doído e puído,
Pisado
Rubro-róseo-escarlate
Sangue Paixão de Cristo
Semana Santa em Minas
Ou em Hollywood...

Sangue perdido desperdiçado
Em entendimento tardio
Do que é,
Do que significa
Amor verdadeiro.

Amor que só se percebe em perda,
Amor que só se percebe imenso
Em sua ausência.

Amor que gera sofrimento
Ante a impossibilidade agora eterna
De lhe dizer qualquer coisa
Até mesmo simples “oi”.

Amor perdido e negado,
Pago com meu sangue
E com meu silêncio,
As únicas coisas que me dignificariam
No dia de hoje.


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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Suspiros e Sopros


Passei o dia de hoje me afogando
Em suspiros profundos
E sopros intensos.

Suspiros de arrependimento
E saudades
E ansiedade
Por desejar ser o que deveria
Ter sido há anos atrás.

Sopros de vida,
Eu, querendo ser Deus
E mudar o mundo e
A vida das pessoas,

Mudar a minha...

Daí o sopro,
Tentativa de,
Tornado em barro novamente
(e em pó, ao mesmo tempo)
Dar-me segunda chance de vida.

Daí o suspiro,
Sopro,
Sístole,
Diástole,
Ansiedade.

Me mandaram até correr na Praça...

Os pulmões foram pequenos
O dia todo.
O mundo se dilatou,
O universo se expandiu e eu,
Implodindo mundos por dentro,
Resisti
Outra vez.

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sábado, 25 de agosto de 2012

A Nau da Ilusão


Soçobra a nau da ilusão.

Vales o quanto pensas.
Tens o quanto fazes.
Mãos à obra, meu irmão!

Para! de forjar imagem,
Para! de pensar bobagem,
Acorda de seu sono tolo
E entra também no bolo
Daqueles que de tudo fazem,
Sem medo de deixar à margem
Uma ou outra interpretação,
Pois quando chegar a hora,
Que pode ser mesmo agora,
Não há tempo de voltar pra fora,
Não terá outra opção...

Sua vida terá passado
Ao largo de si, soldado.
Notará desapontado
Ter lutado em front errado:
O que passou, terá passado,
De que valeu? ficar deitado,
Mesmo estando acordado,
Sem mexer, virar pro lado,
Ver o mundo
Mar agitado...

Soçobra a nau da ilusão...


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sábado, 18 de agosto de 2012

Ainda o Pessoa, que em linha "recta" e muita meditação me leva a "Boitempos"

Dois poemas circunstanciais do Fernando Pessoa, em um deles, novamente "crepúsculo", tão presente nos últimos tempos e eu, no final, recebo ajudazinha do Drummond para ser mais otimista, sair do por-do-sol, mirar tempo bom e alvorecer.

Poema em Linha Recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.

Há Quase Um Ano Não Escrevo

Há quase um ano não escrevo.
Pesada, a meditação
Torna-me alguém que não devo
Interromper na atenção.
Tenho saudades de mim,
De quando, de alma alheada,
Eu era não ser assim,
E os versos vinham de nada.
Hoje penso quanto faço,
Escrevo sabendo o que digo...
Para quem desce do espaço
Este crepúsculo antigo?

23-5-1932

Boitempos...


Sol Praia Mar
O Rio de bom tempo
BH idem...

Deságua em mim
O Boitempo de Drummond...

A.W.C.Jr.


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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A semana em que abusei do Fernando Pessoa


Nuvens

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 
Obrigações morais e civis?  
Complexidade de deveres, de conseqüências?   
Não, nada... 
O dia triste, a pouca vontade para tudo...  
Nada...  

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol   
(Também estive ao sol, ou supus que estive).  
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,  
Vaidade, alegria e sociabilidade, 
E emigram para voltar, ou para não voltar, 
Em navios que os transportam simplesmente.   
Não sentem o que há de morte em toda a partida,   
De mistério em toda a chegada, 
De horrível em iodo o novo...  
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,  
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?  

Gado vestido dos currais dos Deuses, 
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho, 
Vou com ele sem desconhecer...
  
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

   Sob o heterônimo "Álvaro de Campos", Fernando Pessoa escreveu este poema melancólico. Lembrava-me de seus primeiros versos, mas não lembrava o título. Pesquisei em casa e: "Nuvens". Sentia-me hoje exatamente deste jeito, com certa angústia e insatisfação, porém, mais comigo do que com o resto do mundo.

   Eu, que tendo a não acreditar em acasos, passei o dia pensando muito sobre as nuvens, movido novamente pela vista do por do sol lá no escritório e postando agora há pouco frase de efeito com foto numa rede social.

   Foram muito duros estes últimos sete dias, de pesada e solitária reflexão, afinal de contas, o período anterior a qualquer tomada de atitude é dos momentos mais solitários que uma pessoa experimenta na vida.

   Solidão é necessária. Às vezes é boa, às vezes é ruim, às vezes nos impulsiona e às vezes nos atrasa. Às vezes é triste, mas quantas vezes damos nossas melhores gargalhadas quando estamos sozinhos? Inúmeras, incontáveis vezes. A solidão é paradoxal.

   Termino a semana assim, com por do sol "entre nuvens", abusando das referências ao Pessoa, planejando "alvoreceres", rindo sozinho de minhas mazelas e bastante otimista, embora não pareça.


A foto é só para lembrar que por mais que haja nuvens pesadas no céu, é por causa delas que percebemos os raios de sol.

  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Fernando Pessoa, Victor de Andrade e nossos "padrões" a deixar pelo mundo afora...


   O meu grande amigo Victor de Andrade ontem me contou um caso e mencionou este poema (que eu não conhecia) do inigualável Fernando Pessoa, entoado no mês passado por ele em Lisboa, à beira do Tejo, aos pés do Padrão dos Descobrimentos.

   Mais do que poesia, mais do que obra do Pessoa, mais do que registro oral da glória navegadora portuguesa, mais do que versos merecedores da melodia de Caetano Veloso (http://www.youtube.com/watch?v=B1HwbgDiR6Q), este poema é uma ode à motivação humana, seja ela inspirada em Deus, em uma ideia ou na pura e simples intuição e vontade de seguir em frente e registrar sua marca.

   Como toda obra literária de qualidade pode ser lida de várias maneiras, em qualquer época da vida e nos transmitirá sempre uma mensagem ou interpretação nova, adequada ao nosso anseio momentâneo ou reflexão para o futuro.

   E cá estou eu hoje, mais português do que nunca, tanto em nostalgia quanto no desejo de navegar e conquistar, lendo e relendo esses poucos versos tão gigantes e multiplicadores de esperança. E de ilusões.

   Parodiando o próprio Caetano em "Os Argonautas": Navegar é preciso, viver TAMBÉM é preciso.


Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quintas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a cruz no alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Fernando Pessoa-13/09/1918 "O Guardador de Rebanhos e Outros Poemas"



Os padrões eram marcos de pedra que os navegadores portugueses levavam - traziam - no porão dos navios e fixavam nas praias encontradas, como forma de marcar a sua posse pelo Rei de Portugal.
Diogo Cão esteve entre os primeiros navegadores que exploraram as costas da África tendo feito importantes contatos com os povos africanos. Posteriormente disse ter logrado passar o Bojador, o grande desafio que correspondia a ter encontrado o desejado caminho marítmo para as Índias. Essa notícia não se confirmou e o navegador caiu em desgraça(...)

http://www.caleb.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=68:padrao-fernando-pessoa&catid=35&Itemid=54 

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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cara Metade

Cara metade minha
Que não acho em
Parte alguma:
Fixo-a em pensamento,
Fito-a por um momento,
Devanece como espuma.

Onde estará você,
Que fará meus dias longos
E agradáveis
Com você sempre no final?

Olho você toda
Te conheço de alto a baixo,
Mas não aparece...

Vem!
Me devolva os dias
De glória
De vida plena
E feliz!

Meu objetivo é você,
Seus telefonemas
Suas perguntas óbvias
De respostas igualmente
Óbvias, triviais
Tododiamesmacoisa
Que delícia de rotina!

Onde está você?

Sublime-se,
Subverta a física
Do universo.
Crie-se do nada,
Saia dos meus sonhos,
Realize-se em minha frente,

Paire sobre mim
Como os fantasmas
Que me rodeiam...
Todos velhos
Já mortos...Gershwin, Nava, Wright...

E você por nascer...
Fantasma ao contrário...

1997

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os crepúsculos de Belo Horizonte

Nos fins de tarde destes meses de junho, julho e agosto, o por do sol em Belo Horizonte é uma das coisas mais bonitas que a natureza nos oferece e justifica plenamente o nome da cidade.
Da ala oeste da Dávila Arquitetura, no 20º andar do Tech Tower, centro de BH, o espetáculo é quase diário e representa importante pausa para todos buscarmos a energia e inspiração necessárias ao nosso ofício de arquitetar, mesmo quando o trabalho é essencialmente técnico ou burocrático.
Não faltam nessa hora as breves conversas junto às janelas, muitas fotos, momentos de reflexão, silêncio e admiração.
Não por acaso estive hoje folheando o livro "Boitempo - esquecer para lembrar" de Carlos Drummond de Andrade e deparei-me com o poema que reproduzo abaixo e que registra, lá pelos idos dos anos de 1920 o fim do dia de todos nós, belo horizontinos.
A foto foi feita por mim, na copa da Dávila em 10 de julho deste ano.


Estes Crepúsculos

Concordo plenamente.
Estes crepúsculos são admiráveis.
Nada no mundo iguala estes crepúsculos.
O sol é um pintor bêbado reformulando o céu
e até as montanhas e as árvores.
Convida a gente a viver em estado de pedraria,
de sonho, incêndio, milagre.

Estes crepúsculos sublimes criam outra Belo Horizonte,
não a dos tristes funcionários seriados,
outra Minas, outro Brasil.
Estes crepúsculos...
Mas eu não tomo conhecimento deles.
Estou triste.
Estou sepultado em mina de carvão.
Ela passou de bonde e não me olhou.

Carlos Drummond de Andrade
 




















Há também relatos excelentes dos nossos cerpúsculos feitos pelo escritor memorialista Pedro Nava, médico, contemporâneo e grande amigo de Drummond, mas isso é assunto para um futuro post.

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sina

Compadeço
Caminhando
Minhas vidas
Permeando
Dou-me voltas
Me reviro
Continuo
Não achando.

Minha inércia
Incomoda
O coração já
Não a quer
Me inflama
A do passado
Que de alguém
Já é mulher.

Me perdi
Em meu deserto
Sem idéia e
Opinião
Tento alçar o
Vôo certo
Continuo
Preso ao chão.

O futuro
Se aproxima
E eu aqui
Digladiando
Será esta a
Minha sina?
Vou passando,
Vou parando...?
















Imagem: Gas - Edward Hopper - 1940 (http://www.edwardhopper.net/gas.jsp)

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Vista da Janela

Do lugar onde trabalho
Vejo a cidade em que nasci.
Vejo o bairro que me criou,
A escola que me moldou,
Os gigantes em cujos
Ombros me apoiei
Para tentar ao menos
Chegar aos seus pés,
No lugar onde trabalho.


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Foto feita da janela do escritório em que trabalho, onde vê-se da esquerda para a direita: parte do bairro Floresta e  prédios do Colégio Batista Mineiro, Edifício Bemge (Oscar Niemeyer), Edifício Clemente de Faria (Álvaro Vital Brazil).

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desabafo

Dei do melhor que possuía.
Tirei do meu prato.
Foi pouco.

Dou do pior que sou.
Cuspo no prato.
Ainda é pouco.

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Abraço

(às almas referenciais)

Mais do que íntima
Demonstração de afeto,
Encontro de corações,
Enlace de braços e de
Corpos laçados,

O abraço é o maior dos prêmios
Pelo fim da longa espera,
É o matar a saudade,
É encontro e reencontro das almas,

É carinho
Amizade
Amor

É o momento da palavra
Rápida e certeira
Bem ao pé do ouvido
E do cheiro no pescoço,

É desejo de estar sempre junto
E nunca mais separar
Não importando o tempo que durar...

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Alguns Janeiros e Caminhos Contrários

Tudo acabou como havia começado: um longo abraço e um beijo no rosto, de pé, numa calçada de zona sul.
Nenhuma palavra.
Findava-se o ciclo de encontros desencontros, alegrias mágoas, corpos mentes destroçados e cansados de si e do outro.
Houve amor.
Não houve amor.
Ela assinava: Liberdade!
Ele assinava: Medo! E só pôde levar para casa  a lembrança do perfume no segundo abraço...
Então, as portas se fecharam.




Imagem: Janus, na mitologia romana é um deus de duas faces, cada uma voltada para um lado. Era o deus das portas, dos começos e dos finais, por isso o nome do mês de Janeiro tem nele a sua origem.
Também invocado nos tempos de guerra, enquanto esta durava as portas de seu templo estariam sempre abertas. Quando Roma estava em paz as portas se fechavam.
A ele se atribui entre outras coisas a invenção do dinheiro, das leis, da agricultura e, segundo os Romanos, sempre garantiu bons finais.
Janus é citado num romance de Albert Camus chamado "A Queda", onde simboliza a dualidade de ações da personagem principal.

(http://en.wikipedia.org/wiki/Janus)


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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Novo

Por mais que melancolia e lembranças
Me atraiam e me façam escrever melhor,
Desabafando as coisas que nunca fiz,

Por mais que olhando para trás eu tente
Caminhar para frente e de certa forma
Obtenha algum êxito nisto,

Por mais que eu tenha chegado até aqui
Com a pele fina e brilhante, mas com a
Mente enrugada e viciada,

Abro os olhos para o novo e anuncio
Minha chegada ao mundo dos vivos,
Sem conjecturas improdutivas e irreais,

Sem medos, receios, mágoas e preconceitos,
Sem pensar que tudo vai dar errado
A todo momento,

E que se der, deu!
Daí, olho para frente
E dou o próximo passo como esse novo EU.


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quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Se" - Prof. Hermógenes Andrade

Normalmente posto no blog textos meus ou ações de amigos direcionadas à literatura, música e outras formas de expressão.
Hoje, no entanto, posto um poema do Prof. José Hermógenes de Andrade Filho (http://www.profhermogenes.com.br/site/?page_id=2), que acabei de "conhecer" e que já me diz muita coisa.
É uma verdadeira lição de vida e síntese de tudo que devemos buscar.


Se

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…

Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.


 .

Queira Ou Não Queira

Queira
Ou não queira
Sem eira
Nem beira
Sobeira
Seveira
Balanço ao vento...

Só lamento
Longe estar
De ti.


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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Trilha da Existência

Melhor do que qualquer livro
Que eu tenha lido,
Melhor do que qualquer música
Que tenha entrado em meus ouvidos,
É sua maneira de olhar,
Onde vejo passarem as páginas
Do livro de minha vida,
Onde ouço a trilha sonora
De minha existência.

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Nameless

o inominável ser que sou
é o genocida de mim mesmo,
ceifando sem dó nem piedade
a vida
da multidão de sentimentos,
ímpetos,
desejos e loucuras,
que nascem de minha
mais humana mente,
do meu mais humano coração.

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Citações (e saudades)

Ouço na canção:
“A melhor forma de esquecer
É dar tempo ao tempo...”


Ouço na canção:
“A melhor forma de matar a saudade
É não olhar pra trás...”


Tento cantar,
É difícil e a voz não sai.

Meu passado ainda
É mais presente
Que meu futuro
Em construção.

É difícil.

Olho para trás.
Aprendo com meus erros,
Celebro os acertos
Que virão.

Lições de vida,
Que aprendo hoje
Na escuridão.

“O presente é a sombra que se move
separando o ontem do amanhã.
Nele repousa a esperança.”

(Frank Lloyd Wright)


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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Igreja Matriz de Tiradentes


A igreja Matriz de Tiradentes é o lugar mais bonito que eu conheço.

No interior da Matriz de Tiradentes meu cronômetro vital disparou.

No adro da Matriz de Tiradentes a serra me apontou uma direção.

No cemitério da Matriz de Tiradentes enterrei um monte de passado.

A igreja Matriz de Tiradentes é o lugar mais importante do mundo.








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terça-feira, 15 de maio de 2012

Last Breath

Noite.
Caminha automático e despretensioso até a janela do quarto para ver o clima e firmar os planos da manhã seguinte.
Mal chega e experimenta profunda sensação: no mínimo espaço da espessura de uma janela, entre verga e peitoril, entalado entre o interno (onde a rotina e a obrigação governam) e o externo (onde explode a opressão rua-trabalho-downtown) seus pulmões conseguem sorver o mais perfeito ar dos últimos anos.
Êxtase.
Vive o nirvana por 5 segundos.
Para nunca mais voltar.


















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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Num Dia Negro (V)

Minha vida está
Em minhas mãos,
Em meus atos.

O Universo
(leiamos aqui: DEUS)
Privilegia a ação!
Conspira a favor
De quem se move,
De quem se expande,
De quem vive...

Se não tenho feito
Nada disso,
Não tenho vivido...


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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Para o Livro da Minha Vida

Esperança ainda vaga
Uma onda de lembrança
A memória não se apaga
Desde os tempos de criança.

Claramente os diálogos
Ditos pela vida afora
Se transformam em decálogos
Para o que acontece agora:

Negativas viram lendas
Destruindo a ilusão
Adiando pras calendas
As idéias sempre em vão.

E eu deitado, olhando o teto,
Descobri que a alma é lida,
Vou levar quem está por perto
Pro livro da minha vida.


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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sabe Quando...

Sabe quando queremos falar um monte de coisas mas não temos forças para dizer nada?
Quando o corpo dói, pena e enverga de cansaço pelo peso do pensamento?
Quando as palmas das mãos e dos pés parecem queimar de tão frias e ao mesmo tempo parecem tão quentes?
Quando nada mais parece te interessar a não ser você mesmo?
Quando se sente egoísta ao extremo e mesmo assim não se sente culpado por isso?
Quando o universo parece maior do que nunca?
Quando sua casa parece caber numa colher de chá?
Quando você passa a ser altamente reativo a qualquer estímulo e dono de uma certa agressividade, a princípio estranha, mas depois plenamente compreensível?
Quando em um momento há apatia extrema e no outro tudo parece te tocar?
Quando acha que por mais difíceis que sejam suas decisões e possíveis consequências, por mais que saia chamuscado, o alívio virá de qualquer maneira?
Quando não há sono?
Quando há vontade de comer uma caixa de bombons inteira?
Quando no momento mais complicado do dia de trabalho tem um "insight" nada a ver com nada, e ainda sim tem que se concentrar?
Quando a vida te dá lição mais uma vez, e que desta vez doeu muito?
Quando o sentimento de perda é a mola para um recomeço?
Quando uma opinião dura é absolutamente confortável e bem vinda, principalmente se vem para ajudar?
Quando a palavra dita ao pé do ouvido confortaria e a palavra que vem de longe baliza? 
Quando a soma das pequenas conquistas é maior que um milhão?
Quando as fichas caem em sequência?
Quando descobre que não deve relaxar a cada pequeno alívio?
Quando acha que tudo que escreve é uma imensa bobagem?
Pois é...




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sábado, 21 de abril de 2012

Então, Neguei o Amor

 
Então, neguei o amor.
Sublimei.
Afastei de mim
O maná
Transformado-o
Em cálice de sangue
Vinagre e fel.

Recostado
Insone
Pensando e
Escrevendo
Auto-crucificado
De ponta-cabeça,
Neguei o amor.

E paguei...














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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Belas-Caravelas

Flores ao vento,
Velas ao relento...

O que movem as flores?
As belas.

O que movem as velas?
Caravelas.

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Cura Cora (Coralina)

Cora Coralina
Seu mundo é de cores
Versos de anilina
O rio: Vermelho
A serra: Dourada
Melancolia blue...
Na cidade Goiás
A vida é você
Quem cura
Cora
Coralina...













http://www.releituras.com/coracoralina_menu.asp

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domingo, 4 de março de 2012

No (thing)

Não quero conversa hoje.
Não quero ver,
Não quero ouvir,
Não quero falar,
Não quero luz ou sombra,
Não quero nada.
Aliás,
Nada é simplesmente tudo
Que me acontece agora.


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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Monticiello

Coração em obras,
Sem data de entrega.
Em fevereiro talvez...

Coração aos pulos
Perante o abismo imenso
E as três torres ali,
Impassíveis e meio de lado,
Vendo o sol nascer todos os dias,
Vendo a chuva chegar
Vendo o serpentear dos caminhos
Por entre as serras
E cumes do lugar...

Num passar de olhos Rola Moça
Ouro Preto
Catas Altas
Piedade e Curral num segundo apenas,
E fechando o giro
O cerrado imenso e interminável
Com palácios ao longe
E civilização (?)
E céu azul...

Vontade de tocar o céu
Com a ponta dos dedos,
Na ponta dos pés...

Montanha
Morro
Monte
Céu

Monticiello.


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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pálidos, Soturnos e Noturnos

Pálidos
Soturnos
E noturnos
Vagamos por nossos
Corredores
E escadas
No escuro.

Arqueados
Sob o peso de mil
Pedras-pomes
Que são leves
Mas volumosas
Que nos arranham
A pele
E varrem os calos
Dos pés cansados
De andar à toa.

Nosso passado feliz
Ajuda a amargar mais
Os dias difíceis
E a zerar
As expectativas
De sorrirmos novamente
Uns para os outros,
Como fazíamos
Antigamente...

Só nos resta
Ser otimistas
E aviar a receita
De um bem-viver
Imaginário,
Posto que possível.


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domingo, 29 de janeiro de 2012

Sobre As Dores (2009)

Os joelhos doem:
O são, direito
E o esquerdo, operado do futebol.

O futebol que não jogo mais
Me dói.

O estômago dói:
Tem um brejo lá dentro.

Me dói a coluna:
Peso dos anos,
Peso da mente,
Peso do peso que carrego
E que se chama dúvida.

Me dói a vista: cansada.
Me dói não ter vista mais
Para os adjetivos da vida.
Vejo só os substantivos.

Não vejo a cor do céu,
O rastro dos aviões a jato,
As estrelas, que sei todas,
Ou sabia...

Não vejo a flor
Não vejo mais meus livros
De leitura salvadora e companheira.

Meus ouvidos doem muito.
Quem me dera não ter de ouvir tanta
Merda por aí.

Minhas músicas silenciaram,
Todas tão boas,
Tão alimento para a alma,
Mas os discos estão lá
Mudos.
Do que adianta?

Do que adianta reclamar?
Procure algo te que cure.


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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Miss You! Pampulha

Miss you!
Míssil.
Em minha vida passou,
Voou...

Intangível!
Impossível.
E a minha vida ousou,
Amou...

Saudade!
Maldade.
Em minha vida marcou,
Parou...

Abandono!
Desabono.
E a minha vida acabou,
Sarou.



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sábado, 14 de janeiro de 2012

Amo Há Milênios

Como é antigo
O meu coração...
Amo há milênios!
Trago no peito
Uma carga de sentimentos
De muitas outras vidas
(que não são minhas)
E que deixaram resquícios
Em meu coração ancestral:
Migalhas pela História...
E eu fui viajando,
Catando
Aqui
Ali
Acolá...
Resquícios de amor
Dentro do peito.
Coração em migalhas...


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sábado, 7 de janeiro de 2012

Tenso

Encontro-me em permanente
estado de tensão:
lágrima na ponta da pálpebra
esperando uma batida mais forte
do coração
para poder pular fora.

Triste e descrente.



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