"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os crepúsculos de Belo Horizonte

Nos fins de tarde destes meses de junho, julho e agosto, o por do sol em Belo Horizonte é uma das coisas mais bonitas que a natureza nos oferece e justifica plenamente o nome da cidade.
Da ala oeste da Dávila Arquitetura, no 20º andar do Tech Tower, centro de BH, o espetáculo é quase diário e representa importante pausa para todos buscarmos a energia e inspiração necessárias ao nosso ofício de arquitetar, mesmo quando o trabalho é essencialmente técnico ou burocrático.
Não faltam nessa hora as breves conversas junto às janelas, muitas fotos, momentos de reflexão, silêncio e admiração.
Não por acaso estive hoje folheando o livro "Boitempo - esquecer para lembrar" de Carlos Drummond de Andrade e deparei-me com o poema que reproduzo abaixo e que registra, lá pelos idos dos anos de 1920 o fim do dia de todos nós, belo horizontinos.
A foto foi feita por mim, na copa da Dávila em 10 de julho deste ano.


Estes Crepúsculos

Concordo plenamente.
Estes crepúsculos são admiráveis.
Nada no mundo iguala estes crepúsculos.
O sol é um pintor bêbado reformulando o céu
e até as montanhas e as árvores.
Convida a gente a viver em estado de pedraria,
de sonho, incêndio, milagre.

Estes crepúsculos sublimes criam outra Belo Horizonte,
não a dos tristes funcionários seriados,
outra Minas, outro Brasil.
Estes crepúsculos...
Mas eu não tomo conhecimento deles.
Estou triste.
Estou sepultado em mina de carvão.
Ela passou de bonde e não me olhou.

Carlos Drummond de Andrade
 




















Há também relatos excelentes dos nossos cerpúsculos feitos pelo escritor memorialista Pedro Nava, médico, contemporâneo e grande amigo de Drummond, mas isso é assunto para um futuro post.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário