"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

terça-feira, 28 de maio de 2013

Inco-insistência


É por não querer
Te olhar
Que te vejo.

É por não querer
Te achar
Que te procuro.

É por não querer
Te querer
Que te cobiço.

É por não querer
Te amar
Que te amo!

É
Por
Não
Querer (te)
Que
Eu (te)
Morro.


Morro Vermelho, MG.













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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Olhar Seu Olhar


Eu caminho ruafora
Cabeça baixa
Olhandochão
Pra nunca ver
Olhar
Procurar (e achar)
Seu olhar
Nos olhos mil
Que ve(e)m
Passando
Voando
Enxame em
Minha direção.











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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Rede, Estrelas, Pensamentos e Flores


Sinceramente,
Não sei se passo
Ou se lhe dou
Um beijo.

Não sei se
Lhe mando flores
Ou se lhe digo
Flores.

Não sei se
Converso
Ou se desconverso.

Não sei se
Sinto
Ou não sinto.

Sinceramente,

Sinto.

Garota que vem do Sul,
Desce da rede!
Deixa as estrelas em paz!
Olhando-as dessa maneira
Você não sabe do é capaz.

É bem provável que
Uma delas você atraia
Em forma de estrela cadente
E eu, deitado na praia,
Perdido em coisas da mente,
Na hora exata em que ela caia
Farei um pedido somente:

Menina, desce da rede
Venha pensar comigo...
No fundo do coração
Há um lugar alto,
Um bosque de eucaliptos
E alguém para
Sempre dizer
Flores
Ao pé do seu ouvido.

(Goiânia-1997)


















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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Leaving April (Beauty and the Beast)


É exatamente porque vivemos
Entre as feras
Que devemos nos juntar a elas.

Seja no trabalho
Na escola ou
Na própria família,
As feras estão à solta
Com as mais diversas caras
As mais diversas aparências

Nos exigindo
Nos demandando força
E disposição.

Não importa se ela é bonitinha
Não importa se ela é horrenda
Não importa se é criança ou adulto
As melhores caras
Os menores corpos
Podem esconder as maiores feras.

Fera é fera.
E neste caso o que vale
É a fera I-N-T-E-R-I-O-R.

Então? Como elas atacam?
Mostrando todos os dentes.
Como devemos "atacar"?
Mostrando todos os dentes
Em sorriso confiante que
Desarma e conquista.

E que não falemos mais em
Matar um leão por dia,
Porque isso é atentar
Contra a própria espécie,
Contra a própria vida,
Contra o que devemos sempre ser:

Feras.














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segunda-feira, 6 de maio de 2013

B.H. 4:30 A.M.


Um trem inaugura as manhãs
Em Belo Horizonte.
Ele vem do Leste
Quando ainda é escuro
E a cidade está quieta.

Ele vem do oriente
Onde o sol nasce
Porém, vem mais rápido
Que o sol.

Passou por terras onde
Já é dia,
Vem rangendo trilhos
Chicoteando vagões lotados
Que trazem
Em seu bojo os sons,
O movimento de uma cidade
Despertando:

Carros ao longe
Ônibus iniciando viagens
Motocicletas
Vozes descendo a rua
Passos
Burburinho distante
Os primeiros pássaros...
Os primeiros passos
Do dia.

Tudo isto acondicionado
Em cada vagão.

O trem finalmente vem
Passa a Estação Central
E dispara seu apito poderoso
...........................................!

Cruza a Januária,
Os ruídos aumentam
E cada vagão que passa
(Sob os olhos atentos do Conde)
Libera para o ar
Toda a sua carga sonora.

Um de cada vez:
Primeiro os carros ao longe
Os ônibus, motocicletas...
E o último
A carga dourada
Dos primeiros raios
De aurora.

O trem passa direto
Segue para o Oeste
Onde o dia ainda não nasceu
Leva consigo carga renovada
E mais uma cidade
Acordada.

Em ação.

E o dia chega
Então.




B.H. Rua Januária, anos 1920. Ao fundo, rua da Bahia.














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