"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Lua! Meia Lua e Beiral

(retratos de um dia quase perfeito)

Amanheci conversas
Com a amiga de longe
Farol de saber e carinho
Alimento para a alma
E para o coração.

Dia de arte e exposição
De um Van Gogh
Mineiro e Inconfidente
Maestro e Inquieto
Mosqueteiro e Infernal

Infernal como um dia
Equatorial 
De sol muito sol
De calor e fogo por todos os lados
De céu de azul grego mediterrâneo
E lua!
Meia lua
E beiral.

Dia de Minas
Pausa
. . .
Café com leite
Pão de queijo
E footing sem compromisso
Pelas redondezas da Praça.

Dia de voltar para casa
E sentir-se em casa
De construir mais um Olimpo
Com histórias contadas e cantadas
Levemente embriagadas
Quicando nas quinas e esquinas
De Minas
Até o anoitecer
Sob o pé de maracujá quase cheio
Da casa pátria Mãe gentil
Sob um céu de Van Gogh
Bracher
Bituca
e cia.

Assim anoitecia.

Há muito eu não era eu.













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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

2014: nota 10, com louvor!


Joaninha minha filha, chegamos ao final de 2014 um pouco ofegantes e descabelados pois afinal de contas foi um ano muito difícil para todos.
Nós nos separamos.
Estamos em casas diferentes. Coisas de adultos que nem eles conseguem explicar ou justificar direito mas que no fim das contas foi a solução mais razoável.
Fico triste por você ainda não ter um espaço só seu, uma casa só sua. Até mesmo seus brinquedos foram repartidos, ficando metade aí com você e a outra metade aqui em casa, no quarto ao lado, parados, em silêncio, encostados e no escuro, sem você para lhes dar vida.
Enfim...é o preço da decisão que eu e sua mãe tomamos.
Você minha linda, encarou todo esse processo, toda essa transformação com bravura e serenidade de dar inveja a qualquer adulto experiente, vivido e preparado.
Você é uma menina feliz e faz questão de dizer isto o tempo todo.
Grita aos quatro ventos que tem a melhor mãe e o melhor pai do mundo.
Foi muito bem na escola, apesar das tempestades...
Confesso que me assusta tamanha maturidade e compreensão numa criança de apenas 19 quilos...
É a minha magrela!
Esse ano pela primeira vez não passamos juntos o seu aniversário e o Natal. Normalmente ficaria triste e amargurado, mas seu comportamento, sua força e sua alegria me dizem tanto que senti como se estivesse ao seu lado.
Estamos vencendo etapas difíceis, nos adaptando a novas realidades, dando nossos pulos, tomando novas decisões. Fomos muito felizes entre tantos momentos complicados.
Sabe o que é isto filhota?
Isto é viver!
E viver com você torna a vida mais fácil e leve.
Obrigado minha linda. Muito obrigado!
Passamos 2014. Tiramos nota 10, com louvor!
Seremos felizes em 2015.
Eu acredito!
Um grande beijo do seu pai que te ama cada dia mais e mais.















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domingo, 7 de dezembro de 2014

Excursion Into Philosophy


E quando a fé
Parece ir embora?
É por que somos incrédulos?

Não.

E quando a esperança
Não se basta nem a si?
É por que somos pessimistas demais?

Não.

E quando a força
Desaparece por completo?
É por que somos fracos?

Não.

E quando não há amor?
É por que somos indignos para amar?
Para receber amor?

Não.

É porque somos gente.
Temos direito a sentir tudo isso.
Temos também o direito e o dever
De saber que
Cedo ou tarde
Tudo passará,
Tudo voltará.

Tudo é cíclico.

(Edward Hopper: Excursion Into Philosophy - 1959)
















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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Eco


É dessa imensa
Cordilheira que nos separa
Que recebo notícias suas.

Quanto mais penso
Em você
Mais alto meu peito
Te chama.

E as notícias que chegam
Nada mais são que o eco
De meu chamado
Voltando do paredão
De montanhas
E de lembranças,
Sempre que insisto em
Pensar alto
O seu nome.

É essa a notícia.

Seu nome.

Só eco.

Só memória.

Só lembrança.

Só.

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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Brasília, para mim...


Conheci Brasília
Pelas asas de um anjo
Com pés de vento
Olhos de poeta
E coração de criança.

Brasília só existe porque houve sonho, vontade e coragem e essa foto é carregada de significados, sendo por isso, uma das mais importantes de minha vida.
Representa muitas coisas, a começar pelo encontro de três mineiros ansiosamente esperado por mim há anos: Juscelino Kubitschek (Diamantina, MG), aqui representado por escultura em pedra sabão de José Alves Pedrosa (Rio Acima, MG), um dos gigantes do modernismo brasileiro e eu, Alexandre, (Belo Horizonte, MG) em minha primeira visita à cidade.
Um encontro marcado por olhares mais que significativos: Juscelino olhando para além do infinito, certamente planejando seu próximo grande feito; meu olhar de encantamento e admiração pela escultura, pelo personagem que ela retrata e pela cidade que ele criou; o olhar por trás da câmera, que tão bem conduziu e registrou esse momento e essa viagem.
Na verdade, o meu olhar foi além do terreno, terrestre, terráqueo.
Foi olhar múltiplo, de presente, passado e futuro.
Foi olhar para a vida com perspectivas tão abertas quanto as que Brasília proporciona.

Foi olhar arquitetura e urbanismo como estrofes de um grande poema.
Foi olhar de reconhecimento para as pessoas que me construíram e de carinho e receptividade para as que me ajudam a ficar de pé.
Foi olhar de descoberta e recomeço, agora com mais sonho, vontade, coragem, audácia, energia e confiança.


Brasília é, para mim, pura poesia.




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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Braile

(por Denise Eler)

Este poema é um convite
Recite ao pé do ouvido
Daquele que te tem
Mas não te possui

Este poema é feito de confissões na escada
Ensaiadas
De declarações em guardanapos
Guardados
De beijos na boca
Perdidos no rosto

Este poema está na estrada
Pedindo carona
Correndo riscos
Passando frio
Só para chegar até você

Leia com as mãos


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domingo, 7 de setembro de 2014

Atalho para o Cuore Mio


Você desponta novamente,
Longe,
No fim da reta de minhas
Lembranças mais que felizes.
O atalho que percorre
Para chegar ao cuore mio
É uma alameda de
Bouganvilles roxos em flor,
Cheia de pétalas
Suspiros e
Sorrisos,
Cobrindo e
Colorindo todo o chão.

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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Amor Por Necessidade


Passo a vida longe,
Pensando em você
E nas consequências
Que isso me causa, pois
Sua ausência
Anula predicados
Desconjuga meus verbos e
Desqualifica meus adjetivos.

Sua ausência...

É como ver escapar
Por entre os dedos
As areias do tempo.

É como
Dar um beijo
No ar.

É como um rastro de perfume
Que some lentamente
Levado pelo vento.

É como viajar de carro à noite
Com chuva forte
E pneus velhos.

É como gritar seu nome
Mergulhado em águas profundas
Até perder o fôlego.

Sua ausência... 

Me faz te chamar de Amor.

Por necessidade?
Ou por desespero?

(Internet)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

até breve


nossos corações
há tempos
se encontraram

se entenderam
pela luz de nossos
olhos

se falaram
por nossas bocas
em idioma particular

se separaram
dedos mínimos
entrelaçados

querendo voltar

querendo ficar

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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Alegria, Comedimento, Tristeza e Poesia


Alegria e Comedimento
sempre foram presentes
na minha vida
e não sei bem qual dos dois
tem causado maior estrago:
A Alegria,
essa ingênua,
que aparta para longe
todo o mal que existe
no mundo ou
o Comedimento,
um cético,
que sufoca tudo quanto
é autêntico
e espontâneo.

A Tristeza é filha dos dois.
E é mãe da poesia.

Rechaço a Tristeza com o cuidado
de quem empurra com o pé
um bote que sai para passeio
a remo na lagoa do Parque.

A poesia só é triste no ventre da mãe,
porque é doída até a hora do parto.

Quando nasce é fulgurante e bela.
É luz.
Expressão.
Sopro de vida.


sábado, 26 de julho de 2014

Prelúdio


O que há de
Tão grande e imenso
Neste simples
Gesto?
Tocar seus cabelos longos
Passando-os para detrás de
Sua orelha perfeita e branca,
Contorná-la com dedos trêmulos
Ofegantes,
Leves e quase...
Hesitantes,
Até chegar à gota de ouro,
Pequena lágrima,
Pendente,
Adorno,
Brinco.

(sussurro algo que só nós dois entenderíamos... )

Prelúdio de um beijo
Que nunca demos
Mas com o qual
Sempre sonhamos.


Excesso de Bagagem


Foi viajar e nada levou
A não ser o prazer
Da novidade e
A expectativa de voltar
A ver o mundo
Com outros olhos.

Sua maior dúvida era:
Alegria é sentimento mensurável?

Ora pensava que sim,
Ora pensava que não,
Ora pensava que essa medida
É a vida quem dá.

E viajou.
E conspirou.
Se libertou.
Viveu, finalmente.

Voltou para casa
Pleno de esperança,
De felicidade,
Realizações,
E com o Amor
Provocando excesso de bagagem...

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terça-feira, 8 de julho de 2014

Ponto de Fuga (ou, beijinho no ombro)


Fim de jogo.
Fim de Copa.
Fim de férias.
Fim de um ciclo na minha vida.
Novos horizontes à frente.
Novas metas a atingir.
Novos paradigmas para quebrar.
Novas posturas e atitudes a tomar.
Hoje é dia de reinício pessoal.
Amanhã começo a conquistar o mundo.

(O Semeador-Van Gogh-1888)




















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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Insanidade Temporária (dando tela azul...)

(às almas que me conhecem bem)

É muito difícil conter
O impulso:
Quando acordo já estou
No meio da mensagem
E essas palavras todas
Não fazem nenhum sentido.

Os dedos
Nervosos
Teclam "delete" mil vezes
Para em outras mil
Teclar novamente
Sem saber o que dizer.

Mas o que dizer para você
Que sabe tanto de mim?
Que me conhece
Desde antes de nascermos?

Te amo?
Não.
Está além das palavras.
Não se compreende.

Escrevo mais coisas
E deleto tudo sem entender nada.
Nisto sou quase neopentecostal:
Digito em línguas
As orações
Frases
E declarações.

Sei que conversamos.
Todo santo dia.
Mesmo calados e fechados
Em nossas vidas
E em nosso espaçotempo
Religiosamente respeitado.

Trocamos frases inteiras em
Pensamentos absurdos
Coincidentes e
Compatíveis.

Conversamos sim!
Em compasso cardiovascular.
Eu falo daqui
Você ouve daí.

Ouve?

Deve ouvir sim!
Pois daqui eu te ouço...

Na dúvida, eu grito
Alto!
Alto!
ALTOOOOOOOOOO!
Minha pressão arterial
Vai para o espaço.

Eu teclo alto também
Caps Lock mil vezes
Acionada.
E deleto tudo...como sempre.
Com a testa!

Enfim,
Não importa o que vou falar
Ou o que quero dizer
E escrever.
O que importa é que conversamos muito,
Temos assunto
À nossa maneira.
Para a vida inteira.

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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Grande Exposição das Fobias Humanas

(por Denise Eler)

Nesta ala, embaixo da cama, o medo do bicho papão
E acima, sonhando acordado, o medo da solidão
À esquerda, tremendo de frio, o medo dos abraços falsos
E neste carro, no olhar desvio, o medo dos pés descalços

Aqui mesmo, ao meio dia, o medo da própria sombra
À meia noite, em anestesia, o medo da assombração

No subsolo, rastejando aflito, o medo das alturas
E à sete palmos, soterrado vivo, o medo da morte
Deste lado, de paixões atadas, o medo da loucura
E entregue, de mãos beijadas, o medo da própria sorte

Neste ambiente, à prova de rugas, o medo do tempo envelhece
E neste relógio, à prova do tempo, o medo de mudar permanece

Em cima do muro, bem-mal-me-quer, o medo da escolha
E no poder, decretando a censura, o medo dos pensamentos
Nesta mesa, abstêmio convicto, o medo do saca-rolhas
E, por fim, de coração invicto, o medo dos sentimentos

Quem não tem nada a temer que atire-se às torres.


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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ficamos Assim


E ficamos assim,
Eu de um lado,
Refém de umas poucas
Palavras há muito trocadas,
De uns poucos olhares
À meia altura e
De uma timidez abrasadora.

Refém de sentimentos
Impossíveis de expressar
A não ser beijando-a,
Ou escrevendo,
Que é a maneira como
Beijo você agora.

Ficamos assim,
Você do outro lado
Sem saber de mim,
De onde ou
De quando estou,
Refém de todos os meus
Pensamentos e dona
De meu coração.

Ficamos assim,
Sem nunca nos falar,
Um de cada lado da rua
                          da cidade,
                          do mundo.
Reféns da vida.
Reféns do destino.

Livres para voar.


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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Emprestando um poema de Bruna Beber.

   
     Há pouco tempo atrás conheci os poemas da carioca Bruna Beber, poeta da novíssima geração e sobre quem vale muito a pena uma pesquisa mais detalhada.
     Sugiro começar por aqui:  http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2013/07/14/1570/
     Reproduzo abaixo um poema de sua autoria que é um de meus preferidos.

Romance em Doze Linhas

Quanto tempo falta pra gente se ver hoje;
Quanto tempo falta pra gente se ver logo;
Quanto tempo falta pra gente se ver todo dia;
Quanto tempo falta pra gente se ver sempre;
Quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não;
Quanto tempo falta pra gente se ver às vezes;
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver;
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais;
Quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu;
Quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer;
Quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu.

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quarta-feira, 26 de março de 2014

Se eu fosse um nobre Egípcio


Se eu fosse um nobre Egípcio
Daqueles bem fodões mesmo,
Lá da antiguidade, 
Levaria comigo para a pirâmide
Um livro do Pedro Nava,
Uma entrevista da Adélia Prado,
Uma coletânea dos Gershwin,
Outra, do Clube da Esquina,
Uma maquete qualquer do Frank Lloyd Wright,
A risada de Luciane,
O perfume preferido de minha filha
E um bilhetinho seu.
Com desenho...

Levaria todos os meus defeitos
Pois podem servir de escambo
Num purgatório eventual.
Levaria qualidades também!
Vai que preciso de um Curriculum Vitae
Depois da morte...

Levaria as mais terrenas coisas:
Um vídeo do Victor contra o Tijuana,
As lembranças de todas as bobagens proferidas
Com os amigos vida toda...
Engraçadas ou constrangedoras.
Um postal antigo de Belo Horizonte
E um moderno...
Um postal de Chicago
Um de Lisboa
Um da Espanha
Um da Itália... 

Levaria minhas caneladas na vida,
Minhas pequenas corrupções
(se é que elas tem tamanho).

Levaria uns pecados bem cabeludos
Para tirar do fundo da gaveta do sarcófago
E me vangloriar de vez em quando.

Levaria um buquê das vergonhas alheias
Que todos sentiram por mim
E colocaria bem na entrada de minha câmara.

Deixaria no bolso
(bolso de múmia)
Umas fotos de família
Para derreterem e fundirem-se comigo
Quando finalmente
Eu virar pó
E me reintegrar
Ao universo.

(Acervo pessoal)






















P.S.: até a presente data, 26/08/2019, a Pirâmide não me "chamou", então fiz alguns acréscimos da bagagem final que devo levar comigo...



segunda-feira, 24 de março de 2014

Esperança


A esperança deve ser
Semeada em tempos de paz
Cultivada em tempos de crise
E colhida em tempos de tragédia
E caos.

Ela é o combustível da vida.

Deito-me cansado
Ao relento
Lento
Pelos  esforços repetidos,
Desperdiçados,
Mas consciente
De nunca tê-los
Realizado em vão.

Lá fora ventania.
As janelas batem.
E eu aqui dentro
Torcendo para o som
Da chuva chegar logo
E me embalar
Me preparar para a colheita
Que começa amanhã.
Ao nascer do sol.
 













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domingo, 9 de março de 2014

Eu Só Quero o Silêncio


Eu só quero o silêncio
Das minhas músicas preferidas.
Não o silêncio físico e auricular
Mas o silêncio e quietude que
Me trazem à alma.

Quero o silêncio que vem das pinturas de Hopper.

Eu só quero o silêncio
Das grimpas das montanhas de minha terra.
Não o silêncio da solidão e do isolamento
Mas o silêncio dos ventos de lá
Que penteiam cada fio de meus cabelos.

Quero o silêncio do interior das bolhas de sabão.

Eu só quero o silêncio
Dos afagos da mulher amada.
Não o silêncio da rotina e do conformismo
Mas o silêncio da conversa que travamos
No entendimento dos olhares.

Quero o silêncio que vem das páginas do meu livro de cabeceira.

Eu só quero o silêncio
Do segundo anterior à criação,
O silêncio que precedeu o caos,
O big bang,
A explosão do gol de placa.

Quero o silêncio que faço durante minhas conversas com Deus.

Eu só quero o silêncio
Do breve intervalo entre as palmas
De um aplauso intenso.

Eu só quero o silêncio
Da lágrima solitária que escorre
Pela emoção incontida.

Eu quero o silêncio
Da sensação de dever cumprido.

Eu quero o silêncio
Da paz de espírito.

Só não quero mais
O silêncio das reticências...


(Edward Hopper: Nighthawks - 1942. The Art Institute of Chicago-Wikipedia)












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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Last Chance


Te sinto sempre
Atravessando a rua
E sigo seu rastro
De perfume e pétalas
Até te perder
De vista e
Da memória

Te invento então
Em cada esquina
Em cada praça eu
Te procuro
E
Em cada passo
Ou momento
É todo seu
Meu pensamento.

Eu te busco
Sou incansável
Querendo ter
O que não quis
Virando o mundo
O improvável
A last chance
Pra ser feliz.


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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Fim


Uma bela foi
Encanto
Um canto
Enquanto durou

Uma bela foi
Embora
E num canto
Em prantos me deixou


(arquivo pessoal)













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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Lírica


É como caminhar
De volta para casa
Em tarde-noite
Urbana e quente.

É como correr
E receber de frente
O vento fresco da
Chuva que se anuncia:

Alívio.

É como sentir
O aroma discreto
Do canteiro de hortênsias
Da calçada oposta.

É como transpor a rua
Sem carros.
É como deitar no asfalto
E viajar no firmamento:

Liberdade.

É como ouvir ao acaso
A indagação de um interfone:
"Quem é?"
E responder junto com alguém de lá:
"Sou eu...":

Identidade.

É assim sempre
Quando me lembro de você.
É assim sempre
Quando repito seu nome
Aqui dentro, em silêncio.

Em alto e bom tom.




(acervo pessoal)


 





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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Vou Com Sorriso Colgate


lá fora
o vento
virando folha
cá dentro
em cada mão
tenho uma
escolha

na maior das
solidões domésticas
dentes escovados
me encaro no espelho
novamente e
debruço-me
cotovelos apoiados
mãos no rosto
olhos baixos
fixos
na torneira mal fechada

conto as gotas
marcando passo das
batidas do cuore mio

uma a uma

ping...
ping...
pong...
ping...
ping...
pong...

quebro com isso
todos os outros
espelhos das outras
casas de minha vida

Januária
Paulo Piedade Campos
José Ribeiro
Da Bahia
todas elas
ruas passadas
águas passadas
que não movem
mais nada

penso:
mais um dia é
menos um dia

e saio para o trabalho
acelerado

menos mal: vou
de hálito fresco
e com o meu sorriso
Colgate a tiracolo.



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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sem Tempo


Tenho um blog
Uns poemas
Uns escritos esparsos
Uma fome imensa
Um vazio
Um espaço

Tenho mais tempo não...
Nossa! Como morreu cedo
O Leminski
Pouco mais velho
Que hoje

Eu

Que hoje
Morro ainda em
Lentangustiagonia
Querendo saber
Um paradeiro:

Quem se vai primeiro
No derradeiro dia?

Será que vou eu?
Ou irá a poesia?


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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

amor


estremeço e
aconteço
toda vez que
te amanheço
eu te beijo e
enterneço
cada vez que
te anoiteço


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domingo, 12 de janeiro de 2014

(In) Digestão



garimpo todos os dias
as palavras certas para
cada pessoa
e ocasião

separo-as míope, míope
como quem separa
joio do trigo
caroços de
arroz e feijão

vira e mexe
mastigo pedregulhos
cuspo pedras
cuspo cacos
de dente
e palavras erradas
nas horas erradas

tropeço nas etiquetas

mordo a língua
em desespero

me engasgo
com frases

me sufoco
em pensamentos 

regurgito emoções
mal digeridas

cuspo no prato
onde todo dia mato
em longo e contínuo ato
minha fome de viver



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