"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Far away, so close


Para deixá-la de vez
no passado longínquo
afastou-se.

Voltou (se) para o interior
pensando que assim
a vida seria tranquila.

Largou na capital
todos os beijos e
demais lembranças boas.
Deletou o que havia
de mensagens, "likes"
e referências.

Parou de respirá-la mas
no final do sexto dia:
"Damn...!"
Sonhou com ela novamente.

Há coisas que o coração
não deixa que apaguem.
Saudade é uma.
Amor,
nem se fala.

(acervo pessoal)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Inverno


Hoje,
quando o inverno chegou,
a lua cheia era alta e branca
num céu de vidro sem nuvens.

O ar frio de junho por aqui
sempre tem cheiro de
amor recém descoberto,
de expectativa
e de abraços infinitos.

Isso é registro de minha memória pulmonar.

As faces coradas pelo fogo das fogueiras
e pelos corações em chamas.
Frio na barriga,
na ponta do nariz
e nos dedos descobertos
para o carinho inevitável.

Frio
até chegar o primeiro beijo.


(20-6-16: acervo pessoal)



sexta-feira, 10 de junho de 2016

The Living City VII


Sentia um incômodo, um desconforto diferente naquela via emocional que conectava coração e cérebro. O meio desse caminho era, não por acaso da natureza, a garganta, que naquela hora parecia tampada por uma bola de basquete suja de terra.
Ainda assim ouvia com interesse as palavras do professor sobre a cidade e seus primórdios e logo que acabou a aula saiu voando da Cidade Jardim com destino à Floresta.
Coisas de BH...
Flutuou calmo pela São Paulo com o Leitão encaixotado, ruidoso e fedorento lá debaixo do asfalto preto, imerso que estava em pensamentos e especulações inúteis.
Tentava desvencilhar-se dos preconceitos de praxe, principalmente os auto-infringidos, que atormentavam sua vida e o faziam pensar novamente em voltar para a terapia.
Acordou do transe entrando pelo viaduto de sempre. Conhecia aquelas calçadas como sua própria alma e as percorria cumprimentando buraco por buraco.
Ignorou os arcos dessa vez.
Não quis olhar para eles para não invocar mais passado.
Não tinha tempo para isso.
Precisava de caminhos novos, amores novos, sapatos novos.
Virou Sapucaí e sumiu na noite escura.


terça-feira, 7 de junho de 2016

E la nave va...


Vida que segue
Vida que anda
Vida que flui.

Tive um sonho essa noite
Em que dizia para alguém
Pelo whatsapp:
"O acaso é, na verdade, apenas
uma formalidade necessária,
quase uma burocracia da vida
para que os destinos se cumpram."

Vida engraçada
Vida que surpreende.

E la nave va...






quarta-feira, 1 de junho de 2016

De surpresa


Ela chegou  de surpresa
como chuva forte e trovoadas
em pleno mês de junho
na cidade que me vê crescer.

Trouxe vento,
trouxe frio,
aroma de terra e asfalto
molhados.

Foi-se embora e deixou
céu limpo
sol brilhante
atmosfera lavada
alma aquecida
e a minha grama mais verde
que a do vizinho.