"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

domingo, 19 de março de 2017

Há 21 anos: Roma.

Quando estive na Europa em 1996 escrevi um pequeno diário de viagem, contando os acontecimentos de cada um dos 40 dias que passei por lá.
Reproduzo abaixo o que aconteceu no dia 19 de março, sem retoques de texto ou de estilo, exatamente como se encontra na página da agenda.
O Victor mencionado no texto era meu colega de faculdade e tornou-se um grande amigo até os dias de hoje.

Terça-feira, 19 de março.

"Acordamos no horário habitual, um pouco mais tarde, quero dizer, e saímos do quarto às 10:00 hs, pois o Victor tinha seu tempo esgotado por lá. Passei para o quarto número 8, a 35000 liras. 
Bem, depois disso tudo, pegamos o metrô e fomos direto à Piazza San Pietro. 
Entramos na Basílica: impressionante! Imensa. 
Logo à direita, a Pietá, do Michelangelo! Protegida por vidro à prova de atentados. 
Um belo giro pela Basílica. E que giro! 
Em seguida fomos ao subsolo da nave, onde estão os sepulcros de vários Papas e de São Pedro. 
Ao sairmos, demos direto com a fila para subir à cúpula. Entramos: 5000 liras s/ elevador, e 6000 liras c/ elevador. Fomos de escada. 198 degraus até o grande terraço que é o teto da Basílica, depois, mais 330 degraus de todos os tipos até o lanternim. 
A vista lá de cima é qualquer coisa de ...... tudo! 
Acho que quem disse: Ver Roma, depois morrer”, passou por aqui. 
Descemos novamente por escadas. Saímos dentro da nave, onde permanecemos por mais alguns minutos. 
Saímos e fomos comer algo. Meu dinheiro estava no final, e eu bastante preocupado por causa disto. Fomos depois em direção à entrada dos Museus do Vaticano e da Capela Sistina. O único dia que fecham é: 19 DE MARÇO. 
Depois desse desastre, só faltava chover. Não deu outra. 
Pegamos o metrô de volta a Termini e voltamos à pensão. Ficamos lá até o Victor resolver se mandar p/ a estação. 
Eu estava muito cansado. 
Às 20:30 + ou – estávamos novamente em Termini, onde repetimos a pizza do dia anterior, só que de outro sabor. 
Fomos à sala de espera e ficamos conversando. Um velho que estava sentado à nossa frente perguntou se éramos genoveses, por causa do nosso sotaque ( lembrei-me do carinha lá de Gênova, que nos disse que naquela região o dialeto era muito parecido com o português, e que se falássemos claramente, seríamos perfeitamente entendidos). 
Muito bem. Hora de ir. Fui com o Victor até o seu trem, desejei-lhe boa sorte e fui embora de volta à pensão. 
Logo que saí de Termini, no meio do 1o quarteirão, quase fui atingido por dois tiros!!! Bem, ouvi os cartuchos caindo atrás de mim. Os tiros saíram do alto do prédio de + ou – 5 andares que há no local. Voltei com muito medo para o hotel, pensão, sei lá... 
A noite não terminaria bem. 
Dormi muito mal e ainda por cima meu nariz sangrou."

(acervo pessoal)




quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulher


A lembrança dela
chegou com o cheiro
da chuva, vindo com
a brisa que entrava
pela janela semiaberta.
O toque das gotas
no solo quente
o toque de seu beijo
e de sua pele.
O cheiro da terra molhada
o cheiro do perfume
e do suor.
Refresco da alma.

(acervo pessoal)