"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Leaving November (autumn)


Novembro foi-se
Por um triz
Não foi junto meu pescoço
Muitos baldes quase voaram
Em pontapés e cabeçadas
Em quase gols de placa

Foi outono em primavera plena
Queda de flores e folhas
Lifelong believings
And belongings

Fertilizando e pavimentando
O chão que tenho pela frente
O quase mesmo chão do Bob Villela*

Novembro foi-se
E para mim foi
Conjunto de perdas
Das coisas que nunca tive
E ganhos das coisas
Que nunca perdi.
*(http://linhasminhas.wordpress.com/2012/11/23/funcoes/)

 Desenho: Joana Lessa Campos 11/2012

















terça-feira, 20 de novembro de 2012

Carta Para Minha Filha


     Joana,

      se você não tivesse chegado ao mundo como chegou,  prematura de seis meses na véspera do Natal de 2005, diria que hoje foi seu primeiro vestibular.
     Naquela época foram quase sessenta dias de prova não só para você, mas para todos nós, indo e vindo diariamente ao hospital para te visitar e te dar forças, numa rotina angustiante casa-trabalho-UTI-casa-trabalho-UTI.
     Foi quando sua mãe deu mostras de quanto é gigante e guerreira, assim como você.
     Olhando para trás vejo que, apesar de ter enfrentado seu primeiro "vestibular" logo que chegou ao mundo, você foi a professora, e nós os alunos. Seu exemplo de garra e superação nos inspirará para sempre.
     Hoje, 19/11/2012 você fez o seu primeiro teste de seleção para mudança de escola.
     Foi aprovada para entrar numa escola concorrida!
     Quando sua mãe me ligou para dar a notícia, fiquei muito orgulhoso, feliz e emocionado. Passei vários minutos no trabalho reprimindo suspiros e controlando os olhos marejados de lágrimas de felicidade. A vontade era de explodir, sair de lá correndo para te encontar e te cobrir de beijos!
     Tenha certeza minha filha, que muitas outras provas e testes virão, sejam eles na vida de escola ou na escola da vida e de que estaremos sempre ao seu lado.
     Por falar em vida, veja como ela é curiosa: ontem eu vi na internet uma foto feita por um colega de trabalho, o Remi Bouquet. A foto mostra uma joaninha caminhando em meio a um grande novelo de arames farpados. Imediatamente me lembrei de outra foto de joaninha, feita em Paris por outra colega de escritório, a Grazi Malaco. Desta vez a sua xará caminha sobre um mapa da Cidade-Luz...inacreditavelmente a sua cara!
     O Alessandro Marques, também colega de escritório hoje estava jubilante com a filha dele que passou em vários vestibulares e muito bem colocada em todos. Estava num sorriso só. Parecia o Gato da Alice no País das Maravilhas...
     Quando uma coisa-coincidência dessas acontece é sinal inequívoco da existência de uma força e poder superior e que chamamos de Deus. Isso não acontece à toa. Não é possível que seja mero acaso esses momentos terem se conjugado agora. Não foi por acaso também que nos encontramos...
     Esse é o mundo minha filha.
     Essa é a vida: não é fácil, é cheia de obstáculos, dificuldades, farpas, mudanças e muita luta.
     É para ser vivida e vencida com fé, poesia e coragem, pois Paris está lá, nos esperando como recompensa!
    
     Estamos todos muito contentes.

     Te amo.

     Papai.







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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Calmaria


Seria ela calmaria
Pr’um coração
Tão agitado?

Seria ela todavia,
Se estivesse
Apaixonado...

















Desenho:  Joana Lessa Campos

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Leaving October (behind)


Ontem, 29, ventou e choveu,
Mas não adiantou.
O calor ficou.
Ontem, 29, dormi e repousei,
E não adiantou.
Não sonhei.
Pelo menos não me lembro
Ter sonhado.

Hoje, 30, sigo a pé meu caminho
Povoado de lembranças antigas
E pensamentos inúteis retrógrados
Cheio de ruas e calçadas íntimas
Com essas lembranças e pensamentos.
Pisoteio solos sagrados,
Regados irrigados hoje, 30,
Com suor e lágrimas de
Emoção e saudades
Do que passou e nunca mais vai voltar.

Na multidão que cruza o meu caminho diário
Busco sempre o mesmo rosto sem o achar,
Mas quando isso acontece,
Reconheço mais a alma, menos o rosto
Que aparece com os olhos fechados selados,
Com a boca costurada lacrada
E os ouvidos, inexistentes,
Derretidos colados à cabeça.

Alguém que não me vê,
Não fala comigo
E não me ouve mais.
Sequer me reconhece.

Amanhã, 31, quero não estar triste.
A tristeza é uma droga.
Quero melhorar meu sonho,
Melhorar meu caminho,
Melhorar meu mundo.
















Imagem: Aproaching a City - Edward Hopper (1946)