"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sábado, 26 de julho de 2014

Prelúdio


O que há de
Tão grande e imenso
Neste simples
Gesto?
Tocar seus cabelos longos
Passando-os para detrás de
Sua orelha perfeita e branca,
Contorná-la com dedos trêmulos
Ofegantes,
Leves e quase...
Hesitantes,
Até chegar à gota de ouro,
Pequena lágrima,
Pendente,
Adorno,
Brinco.

(sussurro algo que só nós dois entenderíamos... )

Prelúdio de um beijo
Que nunca demos
Mas com o qual
Sempre sonhamos.


Excesso de Bagagem


Foi viajar e nada levou
A não ser o prazer
Da novidade e
A expectativa de voltar
A ver o mundo
Com outros olhos.

Sua maior dúvida era:
Alegria é sentimento mensurável?

Ora pensava que sim,
Ora pensava que não,
Ora pensava que essa medida
É a vida quem dá.

E viajou.
E conspirou.
Se libertou.
Viveu, finalmente.

Voltou para casa
Pleno de esperança,
De felicidade,
Realizações,
E com o Amor
Provocando excesso de bagagem...

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terça-feira, 8 de julho de 2014

Ponto de Fuga (ou, beijinho no ombro)


Fim de jogo.
Fim de Copa.
Fim de férias.
Fim de um ciclo na minha vida.
Novos horizontes à frente.
Novas metas a atingir.
Novos paradigmas para quebrar.
Novas posturas e atitudes a tomar.
Hoje é dia de reinício pessoal.
Amanhã começo a conquistar o mundo.

(O Semeador-Van Gogh-1888)




















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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Insanidade Temporária (dando tela azul...)

(às almas que me conhecem bem)

É muito difícil conter
O impulso:
Quando acordo já estou
No meio da mensagem
E essas palavras todas
Não fazem nenhum sentido.

Os dedos
Nervosos
Teclam "delete" mil vezes
Para em outras mil
Teclar novamente
Sem saber o que dizer.

Mas o que dizer para você
Que sabe tanto de mim?
Que me conhece
Desde antes de nascermos?

Te amo?
Não.
Está além das palavras.
Não se compreende.

Escrevo mais coisas
E deleto tudo sem entender nada.
Nisto sou quase neopentecostal:
Digito em línguas
As orações
Frases
E declarações.

Sei que conversamos.
Todo santo dia.
Mesmo calados e fechados
Em nossas vidas
E em nosso espaçotempo
Religiosamente respeitado.

Trocamos frases inteiras em
Pensamentos absurdos
Coincidentes e
Compatíveis.

Conversamos sim!
Em compasso cardiovascular.
Eu falo daqui
Você ouve daí.

Ouve?

Deve ouvir sim!
Pois daqui eu te ouço...

Na dúvida, eu grito
Alto!
Alto!
ALTOOOOOOOOOO!
Minha pressão arterial
Vai para o espaço.

Eu teclo alto também
Caps Lock mil vezes
Acionada.
E deleto tudo...como sempre.
Com a testa!

Enfim,
Não importa o que vou falar
Ou o que quero dizer
E escrever.
O que importa é que conversamos muito,
Temos assunto
À nossa maneira.
Para a vida inteira.

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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Grande Exposição das Fobias Humanas

(por Denise Eler)

Nesta ala, embaixo da cama, o medo do bicho papão
E acima, sonhando acordado, o medo da solidão
À esquerda, tremendo de frio, o medo dos abraços falsos
E neste carro, no olhar desvio, o medo dos pés descalços

Aqui mesmo, ao meio dia, o medo da própria sombra
À meia noite, em anestesia, o medo da assombração

No subsolo, rastejando aflito, o medo das alturas
E à sete palmos, soterrado vivo, o medo da morte
Deste lado, de paixões atadas, o medo da loucura
E entregue, de mãos beijadas, o medo da própria sorte

Neste ambiente, à prova de rugas, o medo do tempo envelhece
E neste relógio, à prova do tempo, o medo de mudar permanece

Em cima do muro, bem-mal-me-quer, o medo da escolha
E no poder, decretando a censura, o medo dos pensamentos
Nesta mesa, abstêmio convicto, o medo do saca-rolhas
E, por fim, de coração invicto, o medo dos sentimentos

Quem não tem nada a temer que atire-se às torres.


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