"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Meu Nordeste Brasileiro


O Nordeste é um lugar
Em que brilha o sol e reina o mar
Nele vive um povo lindo
Que adora festejar.

Na Bahia e em Pernambuco
Carnaval é tradição
E em outros cantos o que manda
São as festas de São João.

Alagoas e Sergipe
São grudados, eu insisto
Separados sem problemas
Pelo rio São Francisco.

As capitais de dois estados
Tem nomes de gente boa:
Do Piauí é Teresina
Da Paraíba é João Pessoa.

Com o restante dos lugares
Vou fazer brincadeirinha:
CE, MA, RN são as siglas
Quero ver quem adivinha!

(acervo pessoal)








(Escrito a pedido de minha filha Joana,
para apresentação de um trabalho de
Geografia na escola)


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Just Believe


Há dias em que
o sol que carregamos
no coração se põe
à revelia de nossas esperanças
e a noite preta se instala.

Temos sóis de sobra.
Temos um ao outro.

#justbelieve











terça-feira, 25 de julho de 2017

Pouso Forçado


Parou um instante e olhou em volta, saindo de seu transe diário: tela de laptop, linhas de autocad, dedos e mãos frenéticas, vista cansada... fuçou algo na mesa e notou as pautas do caderno distorcidas pelas lentes de seus óculos pousados sobre uma folha ainda virgem.
Pensou na vida que levara até aquele momento, no tanto que quis e até no tanto que se esforçara para fazê-la linear, mesmo sabendo que isso era anti-natural.
A vida lhe fez mudar de ideia.
Antes tarde do que nunca.
Pensou no trabalho.
Sentia saudade da mulher que amava e que não via desde o dia anterior.
Sentia saudade da filha que morava longe e que veria somente no mês seguinte.
Sentia saudade do pai que partira para sempre há quase um ano.
Sentia.
Sentia.
Sentia muito.

(www.canstockphoto.com.br)

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Fotos na Parede

(por Joana Lessa Campos)

Aquelas fotos
Que presenciam seu olhar
Naquela cama
Eu em seus braços
Sendo abraçada.

Aquelas fotos...
Eu de um lado
E você do outro
O laço e os óculos.
Tudo virou passado.

Aquelas fotos
De um dia tão feliz
Você e eu
Juntos
Abraçados.

Aquelas fotos...
Eu, você, o livro
desencapado.

Aquelas fotos
Você, eu ainda bebê
O sol, o luar,
Seu sorriso
A marca.

Aquelas fotos.
A câmera na parede

Aquelas fotos
Eu e você...

(acervo pessoal)



sábado, 10 de junho de 2017

Pequeno Rio Acima

(por Joana Lessa Campos)

Uma casa tão pequena
Lembranças tão grandes
Comida simples
Família unida.

O pão de queijo
A cadeira de balanço
(seu rangidos atacavam)
e eu, no rodapé da sala.

O parquinho pequeno
Onde cresci.
A cerca quebrada
Onde pulei.

As quatro estações
Café quente na garganta
Os óculos redondos
E seu charme.

Tudo perfeito:
Edredom crochê
Bolo quentinho
Feito por você.

O latido dos cachorros
E a placa da garagem.
Minha tia gritando:
"Ô, sacanagem...."


(Joana)












quarta-feira, 7 de junho de 2017

Dançarina

(por Joana Lessa Campos)

Cada passo
Um lugar
A linha da vida
Irá passar.

Cada dança
Uma escolha
Só não entre
Naquela bolha.

A bolha do mal
Não pode passar
Querida dançarina:
Dance em outro lugar.


terça-feira, 18 de abril de 2017

The Living City IX - Pessoas e pessoas


Ela é uma mendiga, como as centenas que existem nas ruas de Belo Horizonte.
Figura das mais repugnantes que já vi na vida: magérrima, cabelos loiros encaracolados e colados de suor ao crânio, dentes disformes e escassos, short sempre abaixo da linha do quadril, blusa de malha um número a menos do que seria normal, sem sapatos, muito suja, muita cola de sapateiro.
Raramente é vista fora do circuito Bahia, Augusto de Lima, Álvares Cabral, Espírito Santo e Guajajaras, onde, certa vez, quase me agrediu quando recusei-lhe uns trocados:

"-AAAAAHHH FELADAPUTA! É POR ISSO QUE JÁ MATEI CINCOOOO..."  ecoou sua voz rouca pelo cânion de prédios às dez da manhã.

A maior parte do tempo vive de cócoras, semi rasteja na calçada em frente à Igreja de Lourdes, à mercê da caridade e da indiferença de quem passa (alerta de mea culpa acionado).
E foi ali que tudo aconteceu:
Subia a pé, automático, pelo lado par da rua da Bahia, sol a pino, trânsito pesado, cabeça focada em algum compromisso genérico quando na altura do Colégio Imaculada a vi na posição de sempre, em frente à Igreja.
Imediatamente me transferi para o outro lado da rua para não ter que passar perto daquela figura.
Segui em frente e à medida em que chegava perto da Igreja vi uma senhora bastante idosa tentando, em vão, atravessar a rua que jorrava uma Itaipu inteira de carros, motos, ônibus e caminhões.
A mendiga estava agachada ao lado da senhora, debaixo de uma árvore magra e voltada para a igreja. De repente, do nada ela se levantou, cochichou algo no ouvido da idosa, a tomou pelo braço e, com gestos encantados, fez parar o trânsito e o mundo.
Atravessaram juntas para o outro lado da rua.
Voltou para sua árvore antes que os carros ousassem sair do lugar e não houve uma buzinada sequer.
Foi há quatro ou cinco anos atrás.
Lembro disso todo santo dia.

(acervo pessoal)

domingo, 19 de março de 2017

Há 21 anos: Roma.

Quando estive na Europa em 1996 escrevi um pequeno diário de viagem, contando os acontecimentos de cada um dos 40 dias que passei por lá.
Reproduzo abaixo o que aconteceu no dia 19 de março, sem retoques de texto ou de estilo, exatamente como se encontra na página da agenda.
O Victor mencionado no texto era meu colega de faculdade e tornou-se um grande amigo até os dias de hoje.

Terça-feira, 19 de março.

"Acordamos no horário habitual, um pouco mais tarde, quero dizer, e saímos do quarto às 10:00 hs, pois o Victor tinha seu tempo esgotado por lá. Passei para o quarto número 8, a 35000 liras. 
Bem, depois disso tudo, pegamos o metrô e fomos direto à Piazza San Pietro. 
Entramos na Basílica: impressionante! Imensa. 
Logo à direita, a Pietá, do Michelangelo! Protegida por vidro à prova de atentados. 
Um belo giro pela Basílica. E que giro! 
Em seguida fomos ao subsolo da nave, onde estão os sepulcros de vários Papas e de São Pedro. 
Ao sairmos, demos direto com a fila para subir à cúpula. Entramos: 5000 liras s/ elevador, e 6000 liras c/ elevador. Fomos de escada. 198 degraus até o grande terraço que é o teto da Basílica, depois, mais 330 degraus de todos os tipos até o lanternim. 
A vista lá de cima é qualquer coisa de ...... tudo! 
Acho que quem disse: Ver Roma, depois morrer”, passou por aqui. 
Descemos novamente por escadas. Saímos dentro da nave, onde permanecemos por mais alguns minutos. 
Saímos e fomos comer algo. Meu dinheiro estava no final, e eu bastante preocupado por causa disto. Fomos depois em direção à entrada dos Museus do Vaticano e da Capela Sistina. O único dia que fecham é: 19 DE MARÇO. 
Depois desse desastre, só faltava chover. Não deu outra. 
Pegamos o metrô de volta a Termini e voltamos à pensão. Ficamos lá até o Victor resolver se mandar p/ a estação. 
Eu estava muito cansado. 
Às 20:30 + ou – estávamos novamente em Termini, onde repetimos a pizza do dia anterior, só que de outro sabor. 
Fomos à sala de espera e ficamos conversando. Um velho que estava sentado à nossa frente perguntou se éramos genoveses, por causa do nosso sotaque ( lembrei-me do carinha lá de Gênova, que nos disse que naquela região o dialeto era muito parecido com o português, e que se falássemos claramente, seríamos perfeitamente entendidos). 
Muito bem. Hora de ir. Fui com o Victor até o seu trem, desejei-lhe boa sorte e fui embora de volta à pensão. 
Logo que saí de Termini, no meio do 1o quarteirão, quase fui atingido por dois tiros!!! Bem, ouvi os cartuchos caindo atrás de mim. Os tiros saíram do alto do prédio de + ou – 5 andares que há no local. Voltei com muito medo para o hotel, pensão, sei lá... 
A noite não terminaria bem. 
Dormi muito mal e ainda por cima meu nariz sangrou."

(acervo pessoal)




quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulher


A lembrança dela
chegou com o cheiro
da chuva, vindo com
a brisa que entrava
pela janela semiaberta.
O toque das gotas
no solo quente
o toque de seu beijo
e de sua pele.
O cheiro da terra molhada
o cheiro do perfume
e do suor.
Refresco da alma.

(acervo pessoal)