"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Que Posso Dizer

O que posso dizer sobre mim mesmo
A não ser que sou o conjunto de
Todos os medos que me compõem,
De todos os erros que me movem
E que me param,
E que parado estou mais errado
Do que nunca.

Posso dizer que acerto também,
Nem sempre na mosca,
Que sou destemido também,
Mas não a toda hora.

Posso dizer que não sou agiota
De sentimentos e emoções,
Pois os entrego sempre
Sem nada cobrar de volta.

Posso dizer que me importo
Com pessoas desimportantes
E que isso me faz mal.

Posso dizer que me autoflagelo
Por coisas que não valem a pena
E que isso dói muito.

Posso dizer que amo alguém
E que existe um Himalaia de silêncio

Entre nós.

Posso dizer que meus amigos me completam.
Mesmo os invisíveis.

Posso dizer que minha família é nota 10.

Posso dizer que a nostalgia e a melancolia
Me tomam muito tempo.

Posso dizer que a felicidade vem em ondas
E a tristeza também.
Que há maré alta tanto de uma quanto de outra,
E que a pesca nesse mar é e sempre será farta.

Posso dizer que sou mais otimista
Do que pessimista, embora não pareça.

Posso dizer que sou palhaço sem circo,
E que palhaços sempre choram nas coxias.

Posso dizer que nem tudo são flores
Mas que é nosso dever semeá-las.

Posso dizer que sou calado sim senhor!
E que meu silêncio sempre fala alto.

Posso dizer sempre um monte de coisas
Sem precisar abrir a boca. 
 
 

sábado, 17 de dezembro de 2011

Florbela Espanca

A dor, no início Espanca
A flor que a Bela espanta.
E a flor, outrora branca,
Torna-se rubra e santa:

Suas pétalas caem,
Os espinhos sobressaem
Provocam profundo corte.
Coitada da flor sem sorte...

À noite ronda-lhe a morte.
Mas logo ao chegar o dia,
Começa a escrever poesia,
De novo sente-se forte.


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sábado, 10 de dezembro de 2011

Carências

Eu hoje estou carente:
Carente de um abraço
Que ainda não dei
De tantas palavras
Que não te falei
Carente de olhares
Que desperdicei.

Carente estou

Do tempo passado
Que nunca dispus
Do tempo futuro
Que a luta faz jus
Carente estou de um pouco de luz.

E ainda que hoje
Quem amo me abrace,
Ainda que hoje
A vida mudasse,
Ainda que hoje
A carência cessasse,
Carente estaria de um beijo em tua face.


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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Barco Vazio

Sozinho em meu
mundo,
qual barco vazio e ancorado
ao vento
que lhe impele e não
sai do lugar,
empurrando, empurrando
forte,
esticando as amarras
dissolvendo o tecido
das bandeiras,
fenecendo aos poucos,
morrendo sempre
no final.












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sábado, 3 de dezembro de 2011

Imortal


Talvez ainda nasça
Quem te ama
E te admira
Para além de onde a vista alcança
Bem além de onde a vida mira.

Recorda-te com carinho
De quem te amou
E admirando,
Percorrendo seu caminho
Vai buscando, vai buscando...

Busca o bem, seu ideal
Busca andar sempre pra frente
Busca ser sempre Imortal
No coração de toda a gente.

E ao chegares ao fim de tudo
Terás passado o portão
Que fica além da vista, de toda a vida,
Terás entrado um coração.


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