"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sábado, 31 de janeiro de 2015

Herança


Giro com os dedos
Memórias
Assim como giro o gelo
No destilado on the rocks.

Bebo muito,
Mas aos poucos.
Me embriago
E durmo.

Sonho com o quinhão
De herança que recebi:
 
Um peixe Beta para alimentar,
Um mini-cacto para cultivar,
A face ainda úmida
Do beijo longo e filial.
A blusa amassada
Pelo aperto do abraço
Da despedida
(ou do até breve).
Alguns brinquedos
Centenas de desenhos
A visão do sono calmo e sereno
Muitas risadas
E declarações de amor.

Desperto feliz e triste,
Sem ver a hora de viajar.
Ansioso e resignado,
Com a mente tranquila
E o coração aberto
Para tocar a vida
E administrar
O latifúndio emocional
Que vou me tornando.














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domingo, 11 de janeiro de 2015

Dez do Um


Sábado.

Sorvi em goles
Pausados e profundos
Toda a atmosfera 
Em minha volta
Alimentando e digerindo
Acontecimentos.

Minha filha vai morar longe.
Meus pais estão velhos.

O resto da família toca suas vidas
Cada qual em seu compasso.

Tenho paixões dispersas
E amores a resolver.

Não sei a quem recorrer
Para o desabafo diário
Pois nem meu travesseiro
Aguenta mais a ladainha.

Estou só mergulhado
Em pensamentos tantos
Que as noites inexistem
E os dias são pequenos
Demais para abrigar
O tanto de vida que
Ainda imagino ter.

Ao mesmo tempo
Tenho medo de não ter
Mais assunto.
Nem para autocrítica.

Enquanto isto a vida
Segue e escoa.
Rápida e certeira
Como um tiro de fuzil.


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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Para Sempre Meu. E Seu.


A consciência súbita
De que tudo um dia acaba
E de que a vida é uma só
Me joga na cara
A lembrança que já lhe
Escrevi poemas e nunca
Os mostrei.

E você sempre linda
E sorridente naquelas fotos...
Na confortável, astronômica
Distância que fotos infringem
Às paixões não declaradas.

Quisera eu lhe falar
De amor
Com a mesma facilidade
E coragem com que
Lhe escrevo agora
Mais esse poema.

Para sempre meu.
E seu.




Publicado em 17-06-2016 no blog da Viviane C. Moreira: https://videcampos.wordpress.com/2016/06/17/amor-em-pedacos-versos-196/


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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ora Pro Nobis


Todo santo dia oro para santos
Que não existem me protegerem.
Torço para que o Universo
Conspire a favor de coisas
Que não construo.
Durmo com medo do Bicho Papão
Puxar minha perna ou me aplicar
Um bullying espiritual qualquer.

Só que,
Quanto mais eu rezo
Mais assombração aparece...

Outro dia veio a Papuda
Lá dos altos do Palácio
E assustou a Joana...
E me encheu o saco!

Confiarei nossa proteção
Agora a um menino
Com nome de rei bíblico
E carinha de anjo da Turma da Mônica
E  a outro, com nome de goleiro-herói
E rostinho risonho e despreocupado...

Para sempre meus queridos.

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