"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

terça-feira, 10 de abril de 2018

Todo dia é dia de viver (ou #5 #17)


Uma vista que não era,
nem de longe,
das mais belas que a cidade
plena de vistas nobres
tinha para ofertar.

Uma igreja imensa
de costas para o mundo,
quintais de casas rotas
e maltrapilhas à vista,
além de uns braços de cidade
que insistiam em subir
pelos morros semi virgens
sem pedir permissão.

Nada disso importava para eles
naquela hora.

Valia mais
sentir na face a brisa constante e fresca,
o cheiro do mato verde entrando pela alma,
os trechos de conversa alheia pescados
nos intervalo entre um suspiro e outro,
o piso de pedras cuidadosamente assentadas,
assoalho para um mundo inteiro de sentimentos
liberados sem medo do amanhã,
o sol, que iluminava a todos sem queimar,
o azul e branco do céu colonial.

Trocavam beijos,
abraços
e silêncios.

Diziam coisas um ao outro
apenas entreolhando-se
e sorrindo.

Aninharam-se ali mesmo
na mureta de pedra,
fronteira entre a terra e o céu,
para nunca mais saírem.

(acervo pessoal)