"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

1994 - Franz Weissmann na Praça da Liberdade

Escrevi este texto para o jornal "Entre Riscos e Rabiscos" do curso de Arquitetura do Izabela Hendrix, em 1994. Uma época em que a cidade começava a renascer culturalmente. Na imagem, da esquerda para a direita: Luciane Missiaggia, Danielli Tavernard, Juliana Myrrha, eu, Eliane Dobscha, Flávio Agostini e Leonardo Miranda. No chão: J.R. Guaritá e Sérgio Myssior. Foto: Murilo Pantaleão.

     "Merece registro a exposição das obras do artista plástico Franz Weismann, austríaco radicado no Brasil há mais de 40 anos. Tal exposição ocorreu no último mês de agosto na Praça da Liberdade, enriquecendo mais ainda a alameda “Travessia” e revelando para a cidade um belo espaço passível de intervenções.
     Estive lá muitas vezes durante a mostra. Fiz várias observações que me ajudaram a compreender o caráter da exposição e também do local. Sem dúvida, a visita mais marcante foi quando da ida de nossa turma à praça para a aula de Desenho Industrial.
     Em meio a discussões e conversas paralelas, caminhávamos pela alameda, quando fomos abordados por um homem que começou a recitar uma poesia de amor, de sua própria autoria, creio eu. Estava trajado com um jaquetão no estilo daquele que costumamos ver nas pinturas representativas de nosso Alferes mais famoso.
     Depois de dois ou três minutos, o anônimo (seria o Tomás Antônio Gonzaga?) termina seu discurso e se retira, indo de encontro à mulher que o acompanhava à distância (seria ela Maria Dorotéia?).
     Arrepiei.
     Enquanto os supostos Marília e Dirceu se iam, tomei consciência do que realmente representava aquela exposição.
     É grande o número de pessoas que freqüentam a praça, e maior ainda o daqueles que apenas passam por lá todos os dias. O cenário é perfeito: prédios bonitos, muita cor, contrastes, perspectivas monumentais. Um belo paisagismo, enfim.
     Tudo isto, aliado à possibilidade de não apenas ver, mas também tocar e até “usar” obras – crianças subiam e desciam nas esculturas, como se estas fossem brinquedos de parque – desmitifica o artista, fazendo-o descer de seu pedestal e vir para junto de nós, simples mortais. Suscita ainda um sem número de manifestações, como aquela, do poeta misterioso.
     O evento da Praça da Liberdade nos faz refletir sobre os espaços da cidade, sua apropriação e conseqüências de tal ato. Quem não se recorda do Festival Internacional de Teatro, ocorrido no primeiro semestre? Será sempre lembrado principalmente por causa daquela companhia francesa, que literalmente se apoderou das ruas de BH.
     Pois é. A exposição de Franz Weismann marcou. A mim de um modo, às outras pessoas, de outros modos, tenho certeza. Quem não viu, perdeu.
     É este o registro."
 
Belo Horizonte, 23-9-94.


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