"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada
"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"
"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
2015
Ouve, amor:
houve amor!
Ano de reencontros
e encontros.
De novo soprou o vento
trazendo o perfume da vida
tirando o conforto da prateleira
derrubando no chão frutos
já amadurecidos e reciclados
agora em novas árvores.
Apesar da lama, dos tiros,
da canalhice geral também
houve muita poesia e boa música.
Do sangue, do suor e das lágrimas
salvou-se cada gota derramada:
as lágrimas viraram risos,
sangue e suor viraram estrada.
O caminho está feito.
Ano que vem tem mais.
domingo, 27 de dezembro de 2015
The Living City III
Almoço de Natal em Santê e família grande à mesa.
A chuva chegara forte espantando o calor e a todos com o estrondo das gotas grossas e brancas como leite caindo sobre as telhas metálicas que cobriam o lugar.
Quem era criança chorou.
Quem era adulto se calou.
O barulho era tamanho que as pessoas não ouviam nem os próprios pensamentos.
Ele, com os olhos semicerrados mirava o nada e ouvia a voz da mulher que amava ecoando novamente em seu peito. Enquanto isso tentava amassar a tampa da cerveja com uma das mãos apenas.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
#recíproco
se te acalma o coração saber que existo
saiba que o meu se acalma em saber
que um dia nós dois existimos
e que foi bom.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
E o Amor faz 10 anos
"Papai! Esse ano terei um aniversário de dois números pela primeira vez! Estou tão feliz!!!!!"
Pois é filha. Dois números. Eu também estou muito feliz.
Dez anos desde que você chegou, naquela correria, numa véspera de Natal turbulenta de um ano atípico em que Deus me tirava coisas e pessoas com uma das mãos e devolvia belezas sem fim com a outra.
A nossa primeira ceia de Natal com você no mundo foi no quarto da maternidade, eu e sua mãe somente, você lá no quarto andar, lutando. O cardápio: duas maçãs, duas bananas, dois pãezinhos. Dois de cada...
É a ceia de Natal mais rica e farta de significados que já tive. Diante dela todas as outras se tornaram insossas.
Você ainda ficou por lá mais 2 meses. Dois.
Fomos vivendo outros Natais, outros aniversários, até que chegaram mudanças. Éramos três e agora, alternadamente, somos dois de cada vez, em duas cidades diferentes. Duas casas diferentes.
Vejo você crescer de longe, nas suas conversas e opiniões, nas fotos que recebo, nas coisas que sua mãe me diz do seu dia a dia.
Vejo você crescer de perto quando nos encontramos, através de suas dúvidas e anseios cada vez mais intrincados e principalmente através de suas mãozinhas cada vez maiores dentro das minhas a cada um de nossos passeios intermináveis pelo mundo.
Duas maneiras de ver você crescendo...
Filha, tenha certeza de uma coisa: você sempre terá nós dois, eu e sua mãe, na sua vida. Sempre. Você é o foco de nossas atenções e por você corremos tanto.
Parabéns pelo seu aniversário! Muito obrigado por todo esse tempo conosco, nos ensinando a ser melhores a cada dia, superando nossos medos e angústias em nome de sua segurança e felicidade. Que Deus lhe abençoe sempre e que mantenha essa felicidade constante que irradia de dentro de você.
Eu te amo!
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Nós dois. |
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Transformação
Cala a boca e solta a voz
que vem de dentro da alma.
Solta os bichos,
as amarras,
esquece o passado.
Solta rindo aquele "eu te amo"
quase soletrado,
sincero ou ornamental.
Espalha na mesa seus desejos
de beijo, de nuca,
do velcro absurdo das partes
e dos pensamentos escondidos.
Cala a boca e dê
as respostas rápidas
a quem as procura
mesmo sem perguntar.
Apenas responda rápido.
A vida não espera.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Ato e efeito
Aquilo tudo durava horas:
a conversa das bocas
a fala dos olhos
o sussurrar dos corações.
Conversavam sobre o mundo
e se entendiam.
Falavam sobre eles próprios
e quase se entendiam.
Sussurravam seu amor
e não se ouviam.
No final concluiram-se
mudos,
cegos,
surdos.
E mortos.
(Ataíde Miranda: O Amor Tem Fases em P&B
nanquim sobre canson A3 )
sábado, 5 de dezembro de 2015
The Living City II
Saiu às pressas de São José onde fora agradecer algumas coisas e pedir outras. Apesar do sol ainda alto, o vento aumentava e trazia o som de trovões que espoucavam ao longe.
Atravessou Afonso Pena, viu a chuva despencando e derretendo as nuvens sobre a Serra. Calculou que em menos de cinco minutos tudo ali estaria molhado.
Alcançou Espírito Santo ensurdecido pelo tráfego e pelo repicar dos sinos da Matriz que parecia chamar o mundo inteiro para a missa das sete. O vento forte entrou junto com ele pelo canyon de prédios e, ao dobrar a esquina e passar pelo Acaiaca fez o índio da fachada assoviar alto, anunciando a tempestade.
Correu.
Desaguou em Amazonas ainda seco da chuva mas molhado de suor.
Pensava cegamente no encontro que teria mais tarde.
Precisava dos beijos e da pele daquela mulher tanto quanto precisava dessas letras e dessas linhas que sempre a traziam para perto nos momentos de distância infinita.
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(acervo pessoal) |
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