Sempre gostei de futebol, legado de meu pai a quem, por muitas vezes acompanhei no estádio aos jogos do Atlético e na AABB, às peladas dominicais e torneios internos. Éramos goleiros e apesar da grande diferença de idade, chegamos a nos enfrentar em balizas opostas.
Em agosto passado postei aqui no blog um poema chamado "Goleiros (homenagem ao meu pai)" para celebrar essa época.
Desenrolou-se a vida, defini minha profissão como arquiteto, e ainda ligado ao esporte interessei-me pela arquitetura de estádios, chegando a formar uma boa coleção de fotos e cartões postais de campos de futebol do Brasil e do mundo que contabiliza hoje cerca de 1.500 peças. Trocava correspondência com outros colecionadores e com o advento da internet veio o comércio eletrônico, que possibilitou a aquisição de itens fora de circulação, particularmente de postais antigos interessantíssimos.
Um desses postais retrata o Maracanã no Rio de Janeiro, onde podemos ver com nitidez os andaimes sob a marquise do estádio bem como o seu entorno todo em obras. A julgar por essas características, suponho que a foto seja do dia de sua inauguração, pouco antes da Copa do Mundo de 1950.
Para a minha grande surpresa depararei-me no verso do postal com um poema sem título, sem data e sem assinatura que acabou por transformar esse pedaço de papel numa relíquia valiosíssima para mim, um elo entre presente e passado, entre três coisas que gosto: poesia, futebol e arquitetura, além das lembranças de infância e adolescência na "cola" de meu pai.
O poema é assim:
"Nos meus olhos de esmeralda
Passa a vida que vivi
Passa a estrada percorrida
Passa a sombra de um adeus
Passam os olhos de outro alguém
Passam luzes que apagaram
Passam nuvens já disformes
Das viagens sem destino
Passam todas as sementes
Que brotaram e já murcharam
Passam flores, passam fitas
Que enfeitaram o passado
Passam sempre e sem parar (?)
As lembranças que agonizam
Passam rastros de risadas
Que calaram já feridas
Nos meus olhos de esmeralda
Passa sempre uma saudade
De uma vida já vivida
Que passou e não voltou."
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