"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Rosário


Não sabia ainda o que aqueles desenhos
que agora fazia queriam dizer:
talvez as fotos, instantâneos de um mundo
corrido e louco já não tivessem tanta força
e a poesia, esta atávica e imemorial já
estivesse perdendo o viço e o propósito.

Angustiado, contorcia as mãos em bola,
roía mal as unhas, fazia delas alfinetes,
coçava e arranhava nervoso canelas,
antebraços e as costas nuas depois
da corrida diária na pracinha do bairro.
Brotavam micropontos de sangue na pele feito
contas de um rosário de expressões a desfiar
ou como as flores das sempre-vivas
que aparecem em cachos redondos
nas serras por aí.

Não sabia ainda o porquê
de tanta expressão,
de tanta música nas madrugadas,
de tanta insônia,
de tanto bruxismo.
Não sabia que sabia
escrever coisas com as luzes
todas apagadas.

Talvez quisesse alcançar de novo
um coração desconhecido,
talvez alcançar de novo o desconhecido
que ainda habitava em seu coração.

Queria eliminar de vez esse
talvez e também as reticências
em sua vida.












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