"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada
"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"
"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
C'est la vie
O menor sinal de vida que ela dava
detonava nele um processo monstro irreversível:
sua alma inteira luz saía por cada poro do corpo,
expulsando de lá as traças que roíam buraquinhos
em várias páginas vividas e já prontas
de um livro marrom escrito a quatro patas
com o velho medo de abrir a boca
e a solidão que isso gerava.
Compunha músicas agora,
escrevia poemas,
tratados sobre navegação,
erguia templos de mil anos,
era barroco e modernista,
traçava rotas da seda,
reconhecia todas as constelações do céu,
percorria o Caminho de Santiago todo santo dia,
dizia-se amadurecido e até criticava os telejornais.
Enrolava-se porém nas contas feitas no Q.V.L.,
nas equações de segundo grau,
no refrão da música favorita cantado aos gritos
na acústica mentirosa de um banho quente,
na quantidade exata de pó para o café das visitas,
no momento certo de sinalizar para o taxi
ou de atravessar a rua sobre a faixa de pedestres.
Gaguejava sempre
ao planejar dar a ela um simples "oi"
ou ao tentar descobrir o timing preciso para o adeus,
pois sabia que a ruptura é sempre um momento de dor,
necessário, porém triste.
Enfim...
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