"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sexta-feira, 12 de junho de 2015

The Living City I


Personagens: Narrrador, Moça 1, Moça 2, Moça 3, Moça 4.

Local: avenida movimentada perto do shopping.

Fim de tarde. Hora do rush.

O anel grosso de prata
Cai da mão de Moça 1
Quica no meio fio e rola
Metálico e cambaleante
Até o meio da faixa de pedestres.

Moça 1 e Moça 2 olham-se nervosas
E soltam exclamação abafada e simultânea.
O sinal está vermelho para elas.

Vem sequência de carros:
um passa longe do anel,
outro passa por cima sem tocá-lo,
o terceiro passa com a roda bem perto e ele treme.
Moça 1 e Moça 2 também tremem e se tocam nervosas.

Moça 3, do outro lado da faixa
Atravessa correndo antes do quarto carro
Passar voando, de faróis apagados.
Sem perceber chuta com força o anel
Que vai parar nos pés de Moça 2.
Ela grita, o apanha e entrega para Moça 1.

O sinal abre e elas seguem rindo alto
Com historinha na manga para contar em casa
Mais logo, no intervalo do jornal ou da novela.

Narrador observa tudo sério, calado,
Sem parar de pensar em Moça 4,
Que nada tem a ver com a história
Está em outro ponto da cidade
E tem lindos olhos castanhos claros.


.

Nenhum comentário:

Postar um comentário