"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Depois da flor, um coração


"Oi."
Disse ela depois de alguns dias de silêncio.
Ele reconheceu a voz e respondeu semicerrando os olhos
Sem tirá-los, no entanto, da flor cremosa desenhada
Na espuma do capuccino que acabara de pedir.

"Ei!."
Verbalizou após alguns segundos.
Fingiu surpresa com o encontro, pois sabia
Que cedo ou tarde a veria por aquelas bandas da urbe.
No fundo da alma ele quis dizer:
"Ainda bem que está aqui! Aquela música me angustiou, me fez pensar que nunca mais nos veríamos..."

Conversaram e se atualizaram sobre coisas da vida.
Ela não pediu nada para beber.
Estava com certa pressa e por isso ficou
Meio assentada, meio de pé,
Com o cotovelo esquerdo apoiado no balcão de madeira.

Ele sorvia aos poucos a bebida,
Olhou-a de frente, inteirinha.
Descobriu uma novidade para contar.
Riu de algumas graças em comum.
Viu e apontou para um conhecido de ambos que passava perto.

Não se lembra de mais nada que aconteceu naquele dia
Depois que, ao fim do derradeiro gole, ela mostrou sorrindo
Que a xícara meio vazia, ostentava em seu interior
Um formato perfeito de coração.

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