"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Junho


Manhã de azul intenso e sol tentando
Em vão aquecer a cidade acordada,
Viva e indiferente aos pecadinhos e mazelas
de quem leva a vida a sério demais.

Seu trabalho transcorre ao som
De Gershwins salvadores
Vomitados ouvido adentro
Pelos fones em volume dez.

Lá fora o carro da pamonha
Vocifera gordices a preços módicos
Enquanto passa voando
Um camburão da polícia.

Um rádio estridente diz ao longe
Notícias um tanto genéricas
E fala da queda do helicóptero.
Alguém desce a rua tossindo roucamente.

A brisa entra pela janela murmurando sonhos,
Assume ares de vento e faz roçar as cortinas
No espaldar alto das cadeiras
Da sala de jantar.

Movimentos de maré,
Ondas espuma branca
Indo e vindo
Na arrebentação deserta,

Dorso de dedos em ação,
Carinhos no rosto da mulher preferida.
O único som que realmente escutava
naquele momento.

Manhã de azul intenso e sol.


Nenhum comentário:

Postar um comentário