"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sábado, 7 de maio de 2016

As Flores na Penumbra


Resolveu arrumar sua estante como
se arrumasse também a própria vida.
Mudou livros de lugar
tirou alguns do armário
encaixotou outros
ordenou quase tudo de maneira
diferente da de sempre.
Misturou assuntos e cores
empilhou, emparelhou
permeou espaços
com objetos e memórias.

Ao fim do processo deitou-se
para apreciar e analisar o novo leiaute:
"aquele ali foi fulano quem deu..." 
"o verdinho não se encontra mais..."
"dentro daquele outro tem a foto dela sorrindo..."
"aquele de arquitetura é foda..."
"aquele peguei emprestado há anos...shame on me!"
Sorria, franzia a testa, cerrava os punhos, ofegava,
relaxava, desfilava sentimentos evidentes e também
muitos adormecidos para sempre.

Tudo isso balela.
Tudo subterfúgio.
Tudo cortina de fumaça
mascarando um amor em silêncio
e o pensamento fixo naquelas flores
que jaziam inertes na penumbra
em outro ponto da cidade.








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