Eu só quero o silêncio
Das minhas músicas preferidas.
Não o silêncio físico e auricular
Mas o silêncio e quietude que
Me trazem à alma.
Quero o silêncio que vem das pinturas de Hopper.
Eu só quero o silêncio
Das grimpas das montanhas de minha terra.
Não o silêncio da solidão e do isolamento
Mas o silêncio dos ventos de lá
Que penteiam cada fio de meus cabelos.
Quero o silêncio do interior das bolhas de sabão.
Eu só quero o silêncio
Dos afagos da mulher amada.
Não o silêncio da rotina e do conformismo
Mas o silêncio da conversa que travamos
No entendimento dos olhares.
Quero o silêncio que vem das páginas do meu livro de cabeceira.
Eu só quero o silêncio
Do segundo anterior à criação,
O silêncio que precedeu o caos,
O big bang,
A explosão do gol de placa.
Quero o silêncio que faço durante minhas conversas com Deus.
Eu só quero o silêncio
Do breve intervalo entre as palmas
De um aplauso intenso.
Eu só quero o silêncio
Da lágrima solitária que escorre
Pela emoção incontida.
Eu quero o silêncio
Da sensação de dever cumprido.
Eu quero o silêncio
Da paz de espírito.
Só não quero mais
O silêncio das reticências...
(Edward Hopper: Nighthawks - 1942. The Art Institute of Chicago-Wikipedia) |
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O que fazer quando as palavras se tornam imprecisas
ResponderExcluirE não conseguem traduzir o que se pensa?
Quando a poesia ainda é tão latente, tão sincera, tão intensa
Que nem ao menos se materializa?
Se me faltam palavras
Deixo de ser poeta
Sou apenas um casulo abandonado pelo último verso
Esta é a crueldade dos sentimentos-meteoros
Não podem tocar a órbita das palavras
Procuram outras rotas para chegar
Mas como posso abrigar o que existe por tua causa e a ti pertence?
Como entregar o que em letras não se fez manifesto?
E como viver sem te dizer o que penso?
Somente boca a boca se entregariam todos os versos.
Enforcou-se o canto em minhas cordas vocais
ResponderExcluirNeste canto só e mudo aguardo apenas os sinais
Não asfixie meu enfisema
Nem formule qualquer teorema sobre a razão da demência humana
Nem virgule esta sentença
Apenas ouça:
Eu sou mesmo o que você pensa. Quem te odeia. Quem te engana.
Vamos! Tragam os sinais! Um brinde! Uma taça!
Dois terços de aspas, um cubo de gelo
Quem cair por último que feche os parênteses e cole o selo
Agora sim
Vejo os cavaleiros do fim
Tão negros e densos como devem ser
Estão aqui perto de mim
Mas por que tres?
Talvez a ânsia de matar-me de uma vez
Assim, no ar, esta tortura nunca termina nem deixa evidências
Nesse canto só escuro morro aos poucos, como naftalina,
Ao deleite das reticências...
Obrigado! Enriqueceu demais o blog!
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