"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sábado, 30 de maio de 2015

Manhã (e vento) de Maio


Pousei a testa latejante
Na bancada fria de granito
Para ouvir de perto
O tilintar das gotas que caíam
Da torneira mal fechada.

Fechei os olhos
E murmurei versos
De uma canção
Que sempre traz
Você de volta
Embora saiba bem que
Não se lembra mais
De mim.

Assim mesmo, não parei de cantar.

Fiz do som daquelas gotas o som
De seus passos me rondando
Querendo fazer ou dizer algo e recuando,
A cada suspiro meu.
A cada suspiro seu.

Fechei a torneira ao sentir
Seus dedos tocando de leve
Meus cabelos quase úmidos,
Um beijo feito de vento frio
Em minha têmpora aberta,
Uma voz em dueto comigo
E um rastro quase imperceptível
De seu perfume preferido indo embora.

Quando abri os olhos
Paramos de cantar
E não mais vi você,
Naquela manhã atípica
Do mês de maio de 2015.


Nenhum comentário:

Postar um comentário