"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada;
mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros - Livro Sobre Nada

"O momento em que, hipoteticamente, você sente que está andando nu pela rua, expondo demais o coração, a alma e tudo o que existe lá dentro, mostrando demais de si mesmo. Esse é o momento em que, talvez, você esteja começando a acertar. "
Neil Gaiman - O Discurso "Faça Boa Arte"

"...eso es lo que siento yo en este instante fecundo..."
Violeta Parra - Volver a Los Diecisiete

sábado, 23 de março de 2013

Leaving March ou O Samba do Crioulo Doido


Enchi o saco de mim mesmo.
Tentei ser quem não era,
Não fui um,
Nem outro
E a vida se encarregou
Do resto.

Cuspindo cacos de dentes
E deixando ao largo
Memórias secas e esfareladas
Como as migalhas
De João e Maria,
Singro a pé
O bairro Anchieta.

Sangro os pés
Numa via sacra maldita
Samba
De uma nota só,
De instrumento só
Reco reco
Reco reco meço
Recomeço...
Reco reco
Reco reco meço
Recomeço...

E meço.

Meço todas as distâncias,
Meço todos os caminhos,
Meço todas as sombras,
Meço as ruas e avenidas,
Meço a altura dos prédios,
E o que resta de casas,
Meço as pessoas
E suas conversas.

Meço o imensurável,
Palmo a palmo,
Tim tim por tim tim
A cada passo um
Pensamento,
Uma lembrança,
E uma lambança.

Ao reco reco meço
Junta-se agora instrumento outro:
Tamborim surdo tarol,
Caixa toráxica de percussão
E repercussão:

Mestre Sala
Meu Coração.


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